quinta-feira, 3 de novembro de 2016

14º Episódio - Nazaré. Velhos Lobos do Mar

14º Episódio – Nazaré. Velhos  Lobos do Mar

- Mas ouve cá Alberte, tu q’rias que’u fosse ó mar, c’uma dor de cabeça e ma’pontada no pête… Essa agora ‘atão não… Ele tem mu’tes camaradas na’ fac’e lá falta. Primêre ‘tá a saúde do mê corpe Alberte!
- Eu na’tanhe nada a ver cô’isse Virguline, mas eu ache que faltas a muitas marés de mar…Iste, é o que eu oiçe dezer p’raí!
-É obra à ós…eu também oiçe dezer muitas coisas, e ande calad’e!
Ouve cá, medemes agora de conversa, donde vinhas tu ontem tão ced’e, até levavas um embrulho tapade c’um casaque d’óliade… até me pareceu um peixe!
- À viste… ouve cá, onde ‘tavas tu tão cede pa’me veres passar!?
-Eu ‘tava em casa, à esnela a ver com’e ‘tava o tempe!
- ‘Tavas assim tão preocupade co’tempe… eu a essa hora vinha do corrimão; olha uma noite perdida, mesme assim ainda apanhei um rebale!
- Apanhaste um rebale… é obra, a sorte vai sempre pós mesmes à ós!
- À pois vai… se tu levantasses o cuzinho do banque, e se fizesses pa’vida podia ser que tivesses melhor sorte! Ouve esta. Lá anda a tu’melher a fessar muitas vezes, para ganhar alguma coisa pa’te sustentar!
Na’me faças falar mais, pa’na’me chatiar contigúe!
- Vou-me já imbora, até logue até logue.
- Éeeee… Na te convém a conversa, dizes que te dói o peite e a cabeça… Isse é tude m’eleza que ‘tá contigúe! Tu já vi’tes, cas fechaduras e debradiças que na’trabalhem enferrujem…é q’acontece ós osses; o q’áde dezer a tu melher, q’ande a costa ‘tá negada, fica arrebentadinha de tante carregue…Nunca se nega ó trabalhe aquela triste… Ta’bem, na tem outre reméde!
Seu fosse a ela, fazia comó mê’pai dezia:- Na casa deste homem, quem na trabalha na’come… e olha que trabalhar, é um vício mu’te benite! Ele tinha rezão, a’costumô a gente a ir à procura do trabalhe, antes ca’fome viesse ter ca’gente.
Na’ tanhas mede nem vergonha de ser um homem de trabalhe; olha ca’preguiça é a mãe de todos os vices!
- À ós…mas que mal fiz eu…já um’tava a ir imora, e fiquei aqui fête parve a óvir um sermão!... ‘Tás aí qué’s o Padre Casemire… iste é obra na praia!
- É na’é… Chama - le agora nomes!
- A Ti’Ana que nunca se metia nas conversas, assim que o Virgolino saiu disse: - À Alberte, na gastes cera com defunte ruim. Ele já na’perde este feiti de na’gostar de trabalhar, ele já quande era mais novo era o  que se via!... Mas fiade meu é que na’bebe mais nada. Se me pedir um cope d’auga ainda lhe dou; uma sede de água não se nega a ninguém…mas ele na’gosta dela, a água cria arrãs na barriga…
Encosta-se aí ó barril a pedir alguém que lhe pague o mata-biche… e às vezes safa-se!
- À Ti’Ana, cá per’mim nem pão nem áuga lhe dava!


Fim do Episódio
M. Francelina e J. Balau.

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