segunda-feira, 24 de outubro de 2016

10 º Episódio - Nazaré. Velhos Lobos do Mar

 Nazaré. Velhos  Lobos  do  Mar.
 10º Episódio

- É verdade sim senhora. Agora até ‘tava a pinsar ´ma coisa, agora em casa da tua irmã, nunca mais se vão entender, eu faço ideia a guerra que vai haver  por lá… cada um fala po’seu lade; e tu Maria afasta - te desta confusão, ó’canão vás também no role!... Bem dê’xemes agora esta conversa. ‘Tou a pinsar d’ir dar ‘ma linhada ó corrimão, é capaz de cair rabiosa, ‘tá gêtes disse  talvez  apanhe um rebale ó dois. À Maria, sou capaz de chegar só pela madrugada, a maré é muite tarde.
- E assim aconteceu.Ao anoitecer, o António iniciou a largada do aparelho na zona mais ao sul da Foz do Rio Alcoa. Realmente como o António previa, as ondas cresceram rapidamente que favorecia a assim este tipo de pesca.
A maré, varria quase o areal, todo o cuidado era pouco, não fosse alguma onda fazer alguma surpresa.
Pouco depois, já noite cerrada, um vulto aproximava - se do António, depois de o saudar, facilmente o reconheceu –
- Olha oTi’Tonhe por aqui!
- És tu Alberte boa noite… Vans também trabalhar ó corrimão!
- V’anhe sim senhora… Está bastante rabiosa, assim é queu goste… Pode ser que os rebales cheguem à borda!
- Olha, hoje também me palpitou dar uma linhada. À Alberte  tem cuidade  c’as ressacas, a maré ‘tá subir e é precise muite cuidade.
- Já reparei nisse Ti’Tonhe. Olhe lá, vossemecê  já vem  há muite tempo co’aparelho n’áuga?
- Não, comecei à coisa dum quarte hora, mas a maré só fica boa lá p’rá meia noite!
-Tá bem. Olhe vou andande, faça boa pesca eu vou um pouco mais ó norte, largar o mê aparelhe… A gente depois se encontra!
- Entretanto em casa do António, a sua  esposa  estava preocupada, com a ausência do seu marido. Em frente ao pequeno altar que tinha em casa, ia falando para a imagem:-
Ai Nossa Senhora da Nazaré  protegei o mê’ homem, d’alguma ressaca do mar, ele anda tão perte das ondas. Ó Virgem Mãe de Deus, s’ele apanhar um rebalinhe ó dois, era tão bom, podia render olgum dinheirinhe po’pãozinhe… Pois é, se’calhar  ‘tou a ser intercê’ra na’é Santinha!... Mas eu sô assim, mesme  quele na’traga nada, vou acender de’fronte à sua imagem, o resto d’uma velinha queu tanhe ali guardada, desde a procissão do ano passade!...Olha vou já acender…Prontes já ‘tá.  Ai que luz tão brilhante e bonita quela ‘tá…. Mas mesme assim, antes de me deitar, ainda rezo mais uma vez ‘m’avé Maria, pode ser eu, adormeça mais depressa.
- Entretanto o António continuava na pesca. Ao ouvir as doze badaladas, levadas pelo vento norte do sino da Igreja do Sítio, resolveu então iniciar a alagem do corrimão.


Fim do 10º Episódio.
M. Francelina e J. Balau.

Sem comentários:

Enviar um comentário