15º Episódio
Augusto – Tenho em casa algumas sardinhas salgadas,
era capaz de ir dar uma linhada com o corrimão… Olha e vou mesme, o mar trás
força e está bom para a pesca do robale… O sol leva ainda duas horas d’altura,
vou preparar as coisas!
(Pouco depois
o Augusto chega a casa e chama a sua filha)
Augusto – Maria, ‘tás aí Maria?
Maria – ‘Tou aqui no quarto mê pai, que pressa é essa?
Augusto – Olha filha, vai à cabana e trás as sardinhas
salgadas que ‘tão na gamela; vou dar uma linhada com com o corrimão, o mar ‘tá
mesme a geite p’ra isse!
(O Manuel
escutou o diálogo do seu pai, sentado no chão na cozinha, ele trabalhava um
pedaço de cortiça com o canivete, dando forma a um pequeno barco, que tanto desejava.
Mas o pequeno escutando a decisão que o pai tomava, não deixou passar
despercebido e disse:)
Manuel – À mê pai, dêxe-me ir consigue, nunca me levou
à pesca com o corrimão!
Augusto – Tu és tonte rapaz, o mar ‘tá levadio e de
noite ainda é mais p’rigoso
Manuel – Mas eu gostava de ver os peixes presos no
anzol!
Augusto – Tu nunca foste de noite à pesca, e com o mar
bastante p’rigoso, na’te posse levar.
Maria – À pai leve a criança, até lhe faz companhia…
Olhe, ‘tou mais descansada se vossemecê for com uma companhia!
Augusto – Vocês moiem-me a ‘nha cabeça… À Maria, vai
depressa buscar a sardinha à cabana!
Bom, eu na’devia ó’trizar ires comigue, mas como pedes
tanto, vai lá escolher a tua roupa grossa por causa do f’ri que faz de noite…
Mas olha que tu t’ans que ‘tar sempre junte de mim depois de atirar com o
aparelho ao mar, ó’viste!
(Uma hora
depois,o Augusto acompanhado do seu filho chegaram ao local. A maré já descia,
até era mais favorável para iniciar a pesca.)
Augusto – Olha filhe, ficas aqui junto da pedra do
aparelho, quando eu estender a linha eu faço-te sinal para atirares com a pedra
ao mar… Mas tem muito cuidade com as ondas.
Manuel – ‘Tá bem pai, pode ir descansade eu vou ‘tar
com atenção… Talvez eu v’anha dar-lhe sorte!
Augusto - Deus queira filhe, uma boa pesca vinha agora
mesme a calhar!
(O Manuel
estava radiante com o trabalho que o seu pai lhe confiara. O Augusto, ao
estender a linha estava um pouco afastado do seu filho)
Manuel – È pá ‘tá ficar escure, já sinte uns arrepios
no corpe… E se me aparecesse agora aqui alguém desconhecide!... O mê pai já ‘tá
longe, olha ‘tou a sentir a linha a ser puchada, é sinal que eu deve atirar com
a pedra ao mar; é isse mesme tanhe que me despachar com cuidade… Lá vai em
louvor do Senhor dos Passos qu’ele gosta muito e tem fé com ele!
Fim do 15º Episódio.
J. Balau.
Sem comentários:
Enviar um comentário