sábado, 11 de julho de 2015

O Filho do Pescador -3º Episódio

= Filho do Pescador 3º Episódio

Maria – Ele tem má d’ermir, eu vou lá espreitar!
Augusto – (Falando sozinho) Olha qu’esta… a mão na’ me deixa de doer!... Deus queira que na’tenha aqui ma’carga de trabalhos… Que é isse que trazes aí Maria, um lençol?
Maria – Não, é pa’tirar uma tira de pano pa’ lhe fazer ma’ligadura.
Olhe o menino ‘tá dermir parece um santinhe… É verdade quem foi que me disse um dia destes, ele ‘teve a cantar na taberna do senhor Alberte; À já sei… foi o Joaquim da viúva. Mas eu nunca o óvi cantar, se calhar aprendeu co’nosse canário!
Augusto – Na’me dês vontade de rir que na’tanhe vontade ninhuma…Agora o mê Manel a cantar… Faz lá a ligadura e trata da ‘nha mão. Espera aí na’apertes muite a  óviste!
Maria – ‘Tá bem, vossemecê é um cagarola nem parece um homem do mar!
Augusto – Pois olha, eu antes queria entrar ó mar com rabiosa do que ma’contecer agora esta desgraça!
Maria – Desculpe lá mas vossemecê parece um cagarola, iste não é nada de cuidade!
Levante-se daí e vá lavar os pés, tanha cuidade ca’ligadura  não a molhe!
Deram agora dez horas já é tempe d’ir pa’caminha.
Augusto – T’ans razão, mas hoje na pregue olhe de certeza, a queimadela na’me vai dê’xar dormir descansade!
Maria – Há uns tempes p’ra cá que ‘tá fête um sesmateque da gaita…Olhe eu vou-me já deitar, já deixei no lar uma cafeteira com água quente pa’ vossemecê lavar os pés.
Até amanhã.
( No dia seguinte. Maria levantou-se  cedo como de costume. Acendeu a lareira com alguns cavacos e colocou a cafeteira de esmalte cheia de água ao lume, enquanto ia buscar o pão à padaria. O Augusto também já estava levantado queixando-se ainda da mão)
Augusto – Iste é que foi um azar, o que me vale é que o mau tempo taí pa’durar…
Com a mão neste estade na’podia trabalhar! (Sente-se fechar a porta)
Maria – (Entrou em casa) Já ‘tá levantade mê’pai… Não há quem saia à rua ca’geada que ‘taí a cair!
Augusto – ‘Tava eu a fazer na cama Maria… O Manel ainda ‘tá dermir?
Maria – Pois ‘tá, e os outres piquenes já vão a caminhe da escola… iste é ma’vergonha, o mê irmão já com dez anes na´quer ir estedar! Oiça cá pai vossemecê na’acha que devíamos falar co’professor?
Augusto - Já tanhe pensade nisse, a gente na’sabe ler, ó menes já tínhames em casa alguém com estudes… Esta vida desgraçada nem pa’comer dá… Na’temes denher  pa’comprar os livres!

Fim do 3º Episódio

J. Balau.

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