= Filho do Pescador 3º Episódio
Maria – Ele tem má d’ermir, eu vou lá espreitar!
Augusto – (Falando
sozinho) Olha qu’esta… a mão na’ me deixa de doer!... Deus queira que na’tenha
aqui ma’carga de trabalhos… Que é isse que trazes aí Maria, um lençol?
Maria – Não, é pa’tirar uma tira de pano pa’ lhe fazer
ma’ligadura.
Olhe o menino ‘tá dermir parece um santinhe… É verdade
quem foi que me disse um dia destes, ele ‘teve a cantar na taberna do senhor
Alberte; À já sei… foi o Joaquim da viúva. Mas eu nunca o óvi cantar, se calhar
aprendeu co’nosse canário!
Augusto – Na’me dês vontade de rir que na’tanhe
vontade ninhuma…Agora o mê Manel a cantar… Faz lá a ligadura e trata da ‘nha
mão. Espera aí na’apertes muite a óviste!
Maria – ‘Tá bem, vossemecê é um cagarola nem parece um
homem do mar!
Augusto – Pois olha, eu antes queria entrar ó mar com
rabiosa do que ma’contecer agora esta desgraça!
Maria – Desculpe lá mas vossemecê parece um cagarola,
iste não é nada de cuidade!
Levante-se daí e vá lavar os pés, tanha cuidade
ca’ligadura não a molhe!
Deram agora dez horas já é tempe d’ir pa’caminha.
Augusto – T’ans razão, mas hoje na pregue olhe de
certeza, a queimadela na’me vai dê’xar dormir descansade!
Maria – Há uns tempes p’ra cá que ‘tá fête um
sesmateque da gaita…Olhe eu vou-me já deitar, já deixei no lar uma cafeteira
com água quente pa’ vossemecê lavar os pés.
Até amanhã.
( No dia
seguinte. Maria levantou-se cedo como de
costume. Acendeu a lareira com alguns cavacos e colocou a cafeteira de esmalte
cheia de água ao lume, enquanto ia buscar o pão à padaria. O Augusto também já
estava levantado queixando-se ainda da mão)
Augusto – Iste é que foi um azar, o que me vale é que
o mau tempo taí pa’durar…
Com a mão neste estade na’podia trabalhar! (Sente-se fechar a porta)
Maria – (Entrou em
casa) Já ‘tá levantade mê’pai… Não há quem saia à rua ca’geada que ‘taí a
cair!
Augusto – ‘Tava eu a fazer na cama Maria… O Manel
ainda ‘tá dermir?
Maria – Pois ‘tá, e os outres piquenes já vão a
caminhe da escola… iste é ma’vergonha, o mê irmão já com dez anes na´quer ir
estedar! Oiça cá pai vossemecê na’acha que devíamos falar co’professor?
Augusto - Já tanhe pensade nisse, a gente na’sabe ler,
ó menes já tínhames em casa alguém com estudes… Esta vida desgraçada nem pa’comer
dá… Na’temes denher pa’comprar os livres!
Fim do 3º Episódio
J. Balau.
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