O Filho do Pescador - 2º Episódio.
Entretanto, de
repente a lareira ainda acesa,espirrou uma faísca de um cavaco atingindo a
mão do Augusto.
Augusto – Ai senhor ‘tou tode queimade… Maria trás aí
au’ga depressa… A gente anda mal guiades!
Maria - O que
foi isse mê’pai!... carague já ia baldeande a au’ga toda, tome lá molhe a mão
depressa… mas ‘inda há mais coisas pa’acontecer à gente, vou já apagar o lume!
Augusto – Iste não é nada filha, na’ta’poquentes foi
mais o suste outra coisa!
Maria – (Lamentando)
A desgraça ‘tá sempre do lade dos pobres, já viu iste pai!
Augusto – T’ans rezão, bem basta a nossa vida
atribulada qu’inda vem estes azares…
Olha, vê lá se tans aí um bocadinhe de manteiga,
pa’pôr em r’iba da pele queimada!
Maria- O quê mê’pai, manteiga!… A gente na´tem denher
pa’comer qu’ante mais pa’comprar manteiga! Olhe a nossa mãe já dezia: - Só na
quinta feira d’Ascenção é ca’manteiga entra em casa; e é quande há denher… Sabe
à quante tempe vossemecê na’faz contas da empresa; ‘tá’í ‘ma miser’a na praia
que na’há memória!
‘Tão aí tantas casas fechadas, com vergonha de saírem
à rua por na’terem denher pa’se governar! Olhe, vossemecê fica agora a saber…
Eu empenhei o mê fi’d’oire e a medalha da nossa mãezinha!
Augusto – Na’me digas isse… mesme sere tu empenhaste o
fi’!?
Maria – Pois empenhei, o pai o que tem comide, é desse
denher; eu até fiquei com pena mas teve que ser… A’gente tem que comer todes
dias mê pai; e o nosse menine agora não há comer que o vede!
Augusto – Isse é verdade, tabém prontes tu é que
sabes! Olha, trás aí ò menes um bodinhe d’azeite pa’pôr em’riba do queimade pa’
iste na’ganhar bolha.
À Maria na’leves a mal da conversa do fi’, disse
aquile por dezer…
Mas ficas já a saber enquante h’over valores em casa
na’vames passar fome; temes o tê irmão pa’criar e eu na’quere que lhe falte
nada… É verdade, vai ver s’ele já tá a dormir, pode caír da cama como noutre
dia!
Maria - Ele tem má d’ermir, eu vou lá espreitar!
Fim do 2º Episódio
J. Balau.
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