22º Episódio
-João filho do Virgulino, tentava acordar o seu pai, quando dormia à sombra de uma
embarcação.
- À mê pai… é obra, tá num sone da morte!… Pai, tá óvir ó quê!
- O que é isse João, trapaça é essa… ‘tava agora a dormir também…
- Trapaça é essa!... Com’o pode você, ‘tar aqui a dormir, depois do que fez à mãe…
Você deixou-a estendida em casa no chão, c’uma carga de perrada, está cheia de
sangue na cara, e as costas todas negras!... Você na’passa d’um animal!
- Mas o quê João… Ela t’a’assim tão mal… Isse é manha dela, foi só ma’discussãozinha
entre a gente!
- Alevante-se daí pai, qu’eu na quere perder – lhe o respête, e vá já p’ra casa ajudar
aquela triste.. Ela ‘tá sofrer o que Deus sabe!... Você na’ dá valor a quem trabalha p’ra si!
Porque foge você do mar, na’quer trabalhar na’ é… Eu na’queria dezer-lhe iste mas, você
‘tá fête um malandre, jà tá viste por todas as companhas!
- Olha que tu ‘tás ma’ofender Zé… Eu quere mais repete, ainda sô’tê pai óviste!
- Você mê’pai!... mas que pai é você, que dêxa uma mulher quase sem poder falar, com
Tanta pancada... Eu tanhe vergonha de si!
Você tabém devia lembrar-se de mim… Eu já sou um homem e devia dar o exemplo digne
dum verdadeiro pai! Olhe, vames imbora p’ra casa, ‘inda bem que ninguém nos tá ó’vir!
- Pouco depois, o Virgulino e o seu filho chegaram a casa. Virgínia deitada na cama gemia
com dores nas costas e nas pernas, quase todo o corpo lhe doía. O José mais humano
chegou perto de sua mãe, e perguntou-lhe como se sentia –
- Como se sente mãe, ‘inda tem muitas dores?
- T’anhe filhe, cada vez mais, e as pernas é o pior… Ouve cá esse homem ‘inda táí?
- Tá mãe, tá na cozinha a pensar!
- À matadore….´vai matar a tu’famila, quelas são como tu!
Na’ ma’ pareças aqui ó pé de mim… Este homem pôe-me no cemitere filhe, vais ver que
na’leva muite tempo… Na’queres trabalhar à malandre, és a vergonha das companhas
todas!!
- Ai senhor ajudai-me… À filhe, vai a casa da Ti´Maria, e pede a ela pa’vir aqui por favor,
a mãe precisa de alguém que ma’jude, ela na’deve saber nada diste!
- Maria recebeu o recado do José em casa, onde lhe contou o acidente, ela ficou furiosa
da brutalidade do seu cunhado… Um familiar não desejado no seio da família. Como se
tratava de sua irmã, lá fez a vontade ao seu sobrinho, e dirigiu-se a casa da Virgínia
rapidamente. Ao entrar na cozinha encontrou o Virgulino sentado debruçado sobre a
mesa. Maria dirigiu-se a ele bastante revoltada e disse-lhe; - Olha p’ra mim Virguline…
Porque maltratas com tanta crueldade a nha irmã?! Na’ respondes! Na’passas d’um
miserável sem coração… Se fosses mê homem, tu nunca mais entravas em casa onde
eu morasse!... UH!... Na respondes… É melhor assim. pelo menos na dizes mais asneiras!
Fim do 22º Episódio
J. Balau.
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