18º Episódio
Maria e seu marido, combinaram entre si, o que deviam dizer à Virgínia, caso ela abordasse a notícia da última pescaria.
- Dizes assim: - À Vergína, na’ te disse já o mê homem me tirou o poder… Olha, já agora calha em caminhe dizes tabém a ela, qu’eu na’som pai do homem dela; ele na’ passa d’um malandre!
- Olha que’la teve a corage de dizer, que tu, na’sabias zelar o denher, e o homem dela sabia!
- É precise na’ter vergonha… perguntasses a ela se o Virguline lhe dói muitas vezes as costas e o pête… Ela já tá ir longe demais…Um homem nunca se, nega ao trabalhe… Era isse qu’la devia convencer o homem! S’ela s’adiantar com mais explicações, dizes que’na’tás pa’ter mais chatices comigue, pá’ via do malandre do homem.
A gente temes que olhar p’ra nossa vida, já na’temes vinte anes, q’olquer dia eu quere e na’posse…
Temes que olhar po’nosse filhe… Eu quere ajudá –le, ele mareçe e quere quele case tabém, c’uma repariga come deve ser: - Séria, zeladora e que trabalhe só assim é podemes formar um lar para o futuro!
- Ninguém tem inveja das amarguras qu’eu tanhe… Deus é que me tem prantade a sua mão Divina no trabalhe! – Ao prenunciar estas palavras, o António tirou o barrete e benzeu-se –
- Olha à Tonhe, gostei agora muite desse teu geste! Nós devemes ter tude co’Senhor…
Eu nem me quere lembrar da noite da trevoada, apanhei um grande cagaçe aqui sozinha!
- Sabes Maria, quante mais chuva cair no rio, as inguias mechem-se e caiem no aparelho … Mas já passou o pior, agora se Deus quiser há-de vir mais inguias!
- No dia seguinte, o mau tempo continuou mas agora mais brando. O mar tabém tinha baixado a ondulação. Os mestres mais atrevidos, dialogavam com os seus camaradas sobre as condições da maré. As opiniões eram discordantes entre as companhas, para lançar as redes ao mar. Os pescadores mais experientes teimavam não arriscar a vida.
- O mestre João da empresa arte xávega, onde o António estava matriculado, não concordava com o mestre Miguel, colegas da mesma arte. - João disse: - Olha Miguel, cá p’ra mim o mar não ‘tá capaz, e eu na’tou pá’riscar a vida dos meus homens… Eu desiste, amanhã logue se vê!
- É obra… vocês até parece que ganharam mede do mar, onde tá a valentia do pescador, na taberna são todes hiróis!! Tanta fome tá-se a passar na nossa terra, isse na’se lembram vocês pois não! Já ‘tão todes ca’barriga cheia!
- À Ti’Miguel desculpe lá, isse na’ é bem assim, cá por mim já disse que o mar na tá capaz!
- Podes ir à vontade homem, se quiseres eu até te ajude a varar o barque ao mar!
- E vôm mesme à João, o mar nunca me meteu mede!... É rapaziada aparelhemes o barque e vames fazer o lance!
- Alguns camaradas, não ficaram bem dispostos com a decisão do mestre Miguel.
O Virgolino, foi o mais discordante, entre os outros e disse: - Oiça cá mestre, você acha co’mar tem boas condições!... Você vai pôr a vida em p’rigue da componha!... Olhe sabe ma’coisa, eu na’entre na sua embarcação… Vá-se quê’xar se quizer!
- Olha c’admiração à Virguline, te foges co’mar de roge, quante mais agora!... Vai p’ra casa vai p’racasa homem, podes ir po’mar abaixe! Tu sempre fôtes um medroso e um malandre… Ias agora tu ó mar c’uma rabiosazinha… Vai e na’ma pareças à nha vista, óviste!
Fim do18º Episódio
J. Balau
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