17º Episódio
- À filhe, tu na’me digas isse… Foi Deus, e a Virgem Maria, eu tinha pedide a eles todes que vos guardasse do temporal!... Ai Senhor dos Passos, e eu aqui sem saber de nada!
- Prontes, já passou esqueça isse agora, a vida continua mãe!
- Olhem ma’coisa, cande vender as inguias, vames todos al’miar a Nossa Senhora da Nazaré e tabém o Senhor dos Passos, vad um ca’sua velinha!
- À Tonhe, eu na’sabia do tê acidente, e ‘tou a ver que fiz mal em mentir à melher… Fiz a coisa mais feia, pa’dar mais valor ao tê trabalhe… Percebes agora!
- Tabém já passou, vai lá vender as inguias, olha, e nunca vás pa’mesma rua pa’na’ dar nas vistas. Diz lá à melher que pague logue, o barquinho precisa dum conserte e o denher é muite precise!
- Na’tanhas mede Tonhe, na’é pessoa de fazer pou’que dos pobres!
- Vê lá isse, na’te dêxes enganar Maria... Lembra-te dos tormentes qu’eu passei!
- Mais tarde. Maria, chegava ao armazém com a última bacia com o peixe. A negociante estava encantada, com o que via na sua frente e disse para Maria: - Olha miga, eu vou ser muito sincera contigo, dou-te duzentos mêrreis por todo o peixe. Ninguém te daria tanto de certeza!
- Dê mais olguma coisinha!
- Não posso, acho que está bem, eu tabém tenho que ganhar alguma coisa!
Tabém prontes. Eu vim aqui em mande do mê homem, porque ele tem confiança em si!
- A negociante, mandou as lavandeiras tratar das enguias. Depois de serem guardadas em lavadeiros e tapadas com uma rede bem amarrada para não fugirem, estavam prontas para irem para o mercado. Maria, com o dinheiro na algibeira, voltou para casa toda contente.
- Entretanto Maria chegou a casa e diz para o seu marido: -
- Tonhe já vendi tudo e já tanhe o denher aqui olha, d’ezentos mêrreis.
- É bem bom, ache que a melher deu o devido valor… Mer’ceu a pena este sacrefice!
- É verdade, eu tanhe ma’novidade p’ra te dezer…, tu na’sabes que forem dezer à Vergina que tu tinhas matade uma pranchada de rebales!
- À forem… Eu logue vi qu’ela tinha alguém, que ia dezer!
- Pois foi, mas eu neguei e disse:- Na foi assim uma grande pranchada com’e te desserem!
- Iste são mas camadas de invejosas que na’podem ver ninguém governar a vida… Sabes Maria,trabalhar faz cales…
- Mas eu, s’ube dar-lhe a volta, disse a ela que só pescastes dois rebalinhes, e até ficaste tu co’denher!
- Eu face idéa agora, c’ande ela sóber das inguias?
- Só te digue que na’ganhe pa’malandres. S’ela sóber desta pescaria, dizes que foi verdade, mas quem tem o denher sô’eu, precise d’arranjar o barquinhe que tem ma’táuba partida!
Fim do 17º Episódio
J. Balau.
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