sábado, 31 de agosto de 2013

16º Episódio

16º Episódio

- António começou assim o levantamento dos aparelhos das enguias. Pouco depois –

- Eia!... João, este boqueirão tem uma teca de inguias… Este tabém vem pesade e tem

mais do c’outre… ‘Tás óvir João!

- Sim ‘tou óvir bem pai!
- Olha filhe, os aparelhos estão cheios de inguias… De certeza que temes hoje ‘ma grande pescaria, Graças a Deus!

- Realmente o António, apanhou tanta enguia que não se lembrava na vida dele, ter outra igual. Ambos trouxeram para casa dois sacos cheios de peixe. Já em casa quando despejaram os sacos para as bacias, a Maria ficou admirada com tão grande pesca -

- À ‘Tonhe, Graças a Deus, eu nunca vi coisa assim… Mas a quem eu vou vender tanto peixe Tonhe?

- Eu sei lá Maria… Há tanta gente na praia que compra enguias… Vai procurar, alguém há-de comprar!

- Ai ca’lindeza aqui tá!! Não há pai pa’vocêses! O mê rique filhe, tem um pai que só sabe dar bons ‘inzemples… Ai vocês dois são a ‘nha maior riqueza. Só precizemes que Deus Nosse Senhor, nos dê saúde e bom livramente; vontadinha de trabalhar na’nos falta... Áh!… é verdade, à tarde s’aparcer ótra vez a trevoada, tu já sabes co’ eu som, na’morre com mede perque na’calha!

À Tonhe,‘Inda bem que o nosse filhe foi logue ó tê incontre… Assim qu’eu lhe disse co’aparelhe na’tava no lugar dele, ele foi logue à tua procura, tabém me disse que já sabia onde tu ‘tavas!

- À Maria dêxa lá agora isse!

Olha, se queres vender as inguias todas juntas, vai ver se falas ca’Maria Ferreira, qu’ela gosta de comprar aquile qu’é bom; e na’te esqueças tiras as mais maneirinhas pá’gente comer, que dê pa’ três ó quatre refê’ções; ‘tá muite má tempe, e na’sabemes quande vames agora ó mar. Que Deus Nosse Senhor, ajude todes aqueles, que fazem pa’vida. É precise é assim de vez em quande, ‘ma maré de sorte.

Despacha-te melher, vai lá vender o peixe, antes olguma esperta vá adiante de ti!

- Pois é Tonhe, falas bem… Olha, leve uma bacia mais pequena pa’ela ver, e digue que tanhe mais quatre, pode ser qu’eu faça ma’venda junta… Até me custa saír daqui, ‘tou a regalar-me de ver tanta inguias!

- A bacia tapada com um avental mais velho, bem amarrado para as enguias não saírem nem ninguém dar fé, foi direita ao armazém da Ti’Maria Ferreira; grande mulher de negócios, uma viúva sardenta muito interessante, que nunca deixou o seu traje de negro, até que a morte a levou, já com uma idade avançada. Maria lá foi ao encontro da negociante. Pouco depois entrou no armazém.

- À Ti Maria, veja aqui esta lindeza!

- È melher, hoje foi de saco cheio!

- À rica tia, iste aqui pá’gente… Já tirei algumas inguias pá gente comer mas, ‘inda tanhe em casa mais quatre bacias cheias… Olhe, ontem ‘tava chê de fezes, o rique homem apanhou o má tempe tode na lagôa, pa fazer esta grande pescaria!

- Bem quanto queres tu por essas enguias, fico com essas e as que tens em casa?

- Na’sê, mas vou buscar as outras p’raqui e vomeçê logue vê!

- Maria dirigiu-se a sua casa e contou ao seu marido ca’té tinha fête a coisa mais feia, que Deus lhe perdoasse mas, até tinha dito À melher que o seu marido tinha ido pelo rio abaixo.

- O João ficou calado ouviu o diálogo todo mas, não se conteve e respondeu à sua mãe: - Olhe mãe, na’ sei a qual sante a gente há-de agradecer, mas você na’mintiu… Foi um anje que me levou ao lugar naquele instante onde o pai ‘tava; O pai tinha mesme caíde à vale!

A gente na’quera dezer-lhe mas você sem querer ad’venhou o acidente!

- Na’me digas isse filhe!

Fim do 16º Episódio

j. Balau.

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