8º Episódio – Nazaré, Velhos Lobos do Mar
Ao anoitecer, o António iniciou a largada do aparelho na zona mais ao sul da foz do Rio Alcoa. A maré varria quase todo o areal mas, todo o cuidado era pouco devido à agressividade das ondas. Pouco depois, aproximou-se um vulto; depois do reconhecimento do estranho, este disse boa noite ao António.
- És tu Alberto… Vans tabém trabalhar ó corrimão?
- É Ti’Tonho, pois vanhe quem diria encontrá-lo aqui a esta hora!
- Olha, palpitou-me vir dar uma linhada, tá mar à fêção pa’matar uns robalos…
-à Alberte tem cuidado ca’maré, ‘inda vem cá cima com grandes ressacas!
- Tem razão, ‘tá bastante mar. Oiça cá, já vai há muite tempo co’aparelho n’auga?
- Larguei há bocade, mas ainda é cede, a maré fica boa lá p’ró mê’da noite!
- Olhe faça boa pesca, eu vou mais ó norte largar o aparelho, iste vai com calma, a gente já sin’contra!
- Entretanto em casa, Maria estava preocupada com a ausência do seu António, ela sentia o berrar do mar e não conseguia adormecer.
- Ai Nossa Senhora da Nazaré, protegei o mê Homem d’alguma volta de mar, ele anda tão perto das ondas e de noite é tão perigoso. Ò Virgem Mãe de Deus, s’ele apanhasse ó menes um robalinho… tabém na fazia mal nenhum, se fossem três ó quatro!... Pois é, ‘tou a ser intercêra na’é Santinha!... Mas, mesme quele na’ traga, nada vou acender de’fronte à tu’ aImagem, o reste duma velinha qu’eu tanhe ali guardada desde o ane passade!
- Prontes já ‘tá’cesa. Ai que luz tão brilhante e tão bonita! Antes de me deitar, ainda reze mais uma Avé Maria, pode ser ca’té eu adormeça mais depressa.
- Entretanto o António continuava na pesca já algumas horas.
Até que, levada pela aragem moderada de Norte, o António ouviu as doze badaladas do sino da Igreja do Sítio, e então mais longe da foz do rio, achou que já era tempo, de iniciar a primeira alagem do corrimão.
- É meia noite, já são horas de começar alar. Vames lá ver a nha sorte!
Eia… O aparelho vem pesade, secalhar é lixe que vem agarrade à linha… Que é iste, até parece um peixe a puchar!... Olha e é um grande robal! Valha-me o Senhor dos Passos! E parece que vem lá outre atrás… Olha já merceu a pena de vir aqui… Obrigada ò Senhora da Nazaré por esta pescaria, iste até parece um milagre!
- Até o fim da alagem, o António apanhou mais quatro grandes peixes, quade acabou sentia-se bastante cansado -
- Ai Senhor, tô cansadinhe mas, valeu apena… E agora Tonhe, quem leva este pêxe p’ra casa!... Valha-me o Senhor, iste é pese demais p’ra mim!
Olha, vem aqui um vulto deve ser o Alberte, és tu Alberte?
- Sou sim Ti’Tonhe. Olhe fiquei sem o mê corrimão, arrebentou-se a linha.
Mas o que é iste… Mas que grandes peixes, você apanhou iste agora!
- À Alberte, tou cansadinhe, deitei-me agora aqui um bocadinhe na’posse cas’pernas, iste já na’é vida p’ra mim… É a nessidade sabes, a vida tá má e uma pessoa tem que fazer das tripas coração; Quem leva agora este peixe p’ra casa! Tu podias fazer um favor, quande chegasses a tua casa, dizias a nha’melher, pó mê filhe vir aqui ao mê encontre, p’ra ajudar a levar esta carga!
- Oiça cá Ti’Tonhe, se você quiser eu até posse ajudá-le, eu até ia já p’ra casa!
Fim do 8º Episódio
J. Balau.
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