7º Episódio – Nazaré, Velhos Lobos do Mar
- António, estava desconfiado com a notícia da sua cunhada.
- Ora tu Tonhe… Tu achas ca’nha irmã vinha pra’qui dezer ma’ coisa de tanta impertança sem ser verdade! Desculpa que te diga mas, tu ‘tás fête um cínique do catane!
- À… Eu ainda pe’riba sou cínique!... Tante trabalhinhe qu’eu levei pa’ganhar olguma coisa pa’comer, e agora chega aqui a tu’irmã, cuma lata, e lá vão mais dez mérreis à vela… Bem basta o que já lá tem de antreciones!
- Olha tu t’ans rezão… Mas ela é ‘nha irmã Tonhe, o que é hei-de fazer… tanhe pena dela!
- Pois é, tu tans pena e a gente vai ficando sem o nosse denher… Sabes o qu’eu haverá de ser!... Mula, co’mó homem dela! Tu já vites qu’le na’se rala com nada!
- À Tonhe, eu sei que tans razão, mas ela é ‘nha irmã, e alguém tem que a ajudar… Eu sei que o mê cunhade, na’quer saber de nada, mas é ela tem andar pa’frente. Na penses tu, que me dá goste ‘tar a largar os mês riques mérreis, que tante te custa a ganhar… A vida tá a correr mal a toda a gente, mas assim que o homem ganhar olguma coisa ela paga-me tude!
- Paga-te tude… Há-de ser tude in’arrelêxas!!!
Agora pá’judar à missa, aquele palerma do tê sobrinhe, ainda foi arranjar mais um trinta e um, d’inganar a piquena… como se chama ela?
- A piquena chama-se Rosa, anda aprender a costurar. Mas tu tans rezão Tonho! O mê sobrinhe é ma’perfeição de rapaz, ele inté podia arranjar um piquena rica, se ele tivesse juízo e esperteza p’ra isse; mas como a Rosa é muito bonitinha, ficou prese pu’becinhe. Eu ache c’aquilo já vai muito adiantado, e se calhar jurou casar com ela!... Agora quer cumprir com o que lhe prometeu; e a ‘nha irmã que se amanhe!!
Sabes o qu’eu te digue Tonhe … ‘Tá o munde bom pa’quem na’tem vergonha!
Toda a vida óvi dezer, quem na’tem vergonha todo o mundo é seu!
‘Inda me lembra a nha mãezinha dezer à gente: olha se tu me na tiveres juízo e envergonhares a nha cara, eu sou capaz de pôr uma corda ò pescoçe.
Tantas vezes quela me disse; se vocês quiserem levar o enxoval que ‘tá na arca, tínhames que marecer o véu branque e o raminho de laranjeira.
- E marcemes! Tu sabes muite bem que é verdade… Dantes havia muite respeite e vergonha, agora… Nem uma coisa nem outra!
- Maria, parece qu’eu ‘tou a ver, em casa da tua irmã nunca mais há sossegue, cada um ralha para o seu lade… E tu afasta-te, ócanão vais tabém no role!...
Bom eu tou a pinsar de preparar o corrimão, pode ser com a rabiosa que taí, mate um rebal ó dois. Secalhar só vanhe de Madrugada porque a mar´faz-se tarde! Na fiques p’raí em fezes!
Fim do 7º Episódio
J. Balau
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