5º Episódio – Nazaré, Velhos lobos do Mar
- Maria acordou assustada e disse para o seu marido:
- Que é isse homem, já tás alevantade ‘inda é noite e já andas aí!
- Pois ande, ‘tá caír um vendaval, e tu deixaste a esnela mal fechada.
Eu vou levantar-me pa’ver a nossa lancha; o mar deve já ‘tar com a
ondulação bastante forte!
- António pouco depois saiu de casa, mas o movimento na praia era já bastante.
- Os pescadores, com a ajuda dos bois, iam puxando as embarcações para
os lugares mais seguros. A lancha do António era a que estava em perigo e
o mar já varria todo o areal. O aviso da Polícia Marítima foi muito importante
para os pescadores, para cuidarem das suas embarcações. Estava aproximar-se
uma frente fria, acompanhada de uma grande tempestade. O António com a
ajuda de alguns amigos, também pôs a sua embarcação fora de perigo.
O movimento na praia era agora mais calmo, enquanto alguns pescadores
conversavam nas tabernas habituais. Todos os pescadores estavam surpreendidos
com a mudança do tempo tão brusca. O António dialogava com o amigo Joaquim,
sobre o estado do tempo.
- À Jôquim, eu na’tou nada admirade com este vendaval, ‘inda temes em Outubro
mas, lembro há uns dez anes… Olha no mês que o pai faleceu, passou aqui na nossa
terra, um rabo de um ciclone que, até levou as telhas de algumas casas!
- À Ti’Tonho parece que ‘tou certe disse… Eu sou mais novo ca’si uns aninhos…
À Ti’Ana encha aí dois copinhos de vinho branco pa’gente. Já tanhe a garganta seca!
- Ataberna da Ti’Ana frente ao mar, estava com bastante freguesia, cada um contava
as suas fazes da vida.
O António pouco depois regressou a casa, para pôr ao corrente o que se tinha passado
na praia à sua mulher. O vento em cada instante aumentava a sua fúria.
Na rua o António encontrou a Maria que vinha saber o que estava acontecer na praia.
o que vens fazer à rua com este temporal Maria!... Olha já pus a lanchinha numa rua , ali está mais segura; se não tivesse vindo tão cedo o mar tinha-a levade|
- ‘Tás a ver, e eu aqui preocupada contigo,’inda esta noite tive-te a pôr um
saco de areia quente nas costas pa’dôr te passar, anda lá para casa q’uinda
vais caír numa cama… Tu pensas que tens agora vinte anes. Se eu sei que tu
tinhas que vir ver a lancha, tinhas que vir mais agasalhade… Já saíste de casa
há mais de duas horas, e eu aqui cheia de fezes sem saber nada de ti!
- Prontes Maria já chega de sermão… Bem basta o que me tem acontecido,
q’uinda me tás a dar cabe da nha cabeça. Olha, sabes ‘ma coisa a areia quente
fez-me muito bem, parece que já não tenhe nada!
Fim do 5º Episódio
José Balau.
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