sexta-feira, 30 de agosto de 2013

15º Episódio

15º Episódio

João, depois de ouvir o grito de socorro, apressou o passo, para descobrir de onde vinha o pedido de ajuda -

- É aqui, é você pai!... O caniçal é fechade e na’me dêxa ver!

- Ai ai, eu na’consigue sair daqui… És tu filhe, valha-me Deus, ajuda-me com olguma coisa, eu sozinhe na’consigue sair daqui!

- Espere pai, eu já o vi, agarre-se a estas canas, iste escorrega muite, eu vou descer à vala, dê’me agora a sua mão, isse assim, levante agora a perna e faça a força que puder, coragem pai, mais um pouco dê-me agora a outra mão, assim agarre-se melhor, prontes já ‘tá fora de p’rigue!

- António, com a ajuda do seu filho estava a salvo -

- À filhe, foi Deus que te mandou agora aqui… Eu vi agora, a morte à frente dos olhes!

- Mas com’é aconteceu iste pai?

- Olha, como vês a cheia trás muita força, e um tronco d’uma árvore vinha na corrente, bateu no barquinhe e virou-o num abrir e fechar de olhes… Eu na’ pude fazer nada!

- E onde ‘tá o bar’que mê pai?

- Olha, foi levade com a corrente… mas, ele vai parar mais abaixe, onde ‘tão as portas do rio pa’segurar as águas, daí ele já na’passa!

- Eia!... você tá tôde encharcade… Vista esta calças minhas para não arrefecer mais, e esta camisola grossa… Olhe, o sol tá a querer apar’cer, entretante vames andande até à estrada, p’edemes encontrar alguém no caminhe que nos leve. Olha, ‘tás a ver o bar’que ‘tá’li, vamos tirá-le d’auga e virá-lo, fica amarrade ali aquela árvore e amanhã vimes mais cede, tratar dele para levantar-mos os aparelhos, se na’óver mais azares vames apanhar muitas inguias! - E assim aconteceu -

- À filhe, tu na’vás contar à mãe, o c’aconteceu aqui, ela na’ pode saber nada deste acidente!

- Fique descansade, eu na’vou dezer nada.

- António e seu filho, caminharam até à estrada. Pouco depois, viram aproximar-se uma carroça, fizeram sinal ao condutor parar e pedir uma boleia. João, depois de explicar o acidente do pai, ao dono da carroça, imediatamente os ajudou.

O benfeitor morava na Pederneira, e logo se criou ali uma amizade.

Mais tarde António e João, chegaram a casa. Maria ao vê-los ficou contente mas, mal sabia ela o que tinha acontecido ao seu marido.

- À ‘Tonhe, graças a Deus que os veje, tanhe rezade tante por vocês, olha aí vans tôde melhade… Deves ter apanhade um grande suste!

- Olha nem por isse… Abriguei - me numa casa velha d’um valadeire, eu e os outros companheires… À Maria, arranja aí uma bacia com au’ga quente, e uma muda de roupa, eu ‘tou bem na’te apoquentes!

- À filhe, tu tabém ‘tás tôde melhade!

- Pois ‘tou mãe, só se pensa qu’eu vanhe d’algum bailarique, ande lá mêxa-se!

- Tás a mangar… Eu vou buscar a roupa, a áu’ga já ‘tá aquecer. Depois de se lavarem e mudar de roupa, tenho ali mas mesturadas para aquecer para depois comerem.

- Oiça cá mãe, e na’há nada p’ra cima da sopa?!

- Há sim filhe… Comprei um bucade de tôcinhe velho, tá na panela da sopa mas, é só p’ra vocês, eu bebende uma tejela de café, já fique bem!

- Depois da refeição, António e o seu filho, planeavam o trabalho para o dia seguinte. Ao escurecer, o tempo dava sinais de melhoras.

- Na madrugada, o António e o seu filho saíram de casa muito cedo, a caminhe da lagoa. Enquanto caminhavam, iam conversando sobre o trabalho no dia seguinte. Terá o barco ter sofrido algum dano, que não pudesse ser usado, para fazer o levantamento do aparelho! Mais tarde lá chegaram ao local, onde outros pescadores seguiam na mesma direção.

O António avistou o barco virado entre o caniçal. O Rio tinha baixado um pouco o seu percurso; agora tudo era mais fácil. Pouco depois, outros pescadores aproximaram-se, e ajudaram o António a preparar a pequena embarcação; tinha alguns pequenos danos, sem prejuízo para poder navegar.

- À João, o bar’que como está, vai desenrascar o nosse trabalhe… Agora, tu vais acompanhar-me sempre p’la borda do rio, na´podemos ir os dois dentre pode acontecer ‘olguma coisa!

Fim do 15º Episódio

J.Balau.

Sem comentários:

Enviar um comentário