sexta-feira, 30 de agosto de 2013

11º Episódio

11º Episódio.

- Alberto tinha dado alguns conselhos ao Virgulino, pelo incumprimento perante a empresa onde trabalhava. A sua recusa ao trabalho já lhe tinha causado alguns prejuízos.
- Eu na’tanhe nada a ver co’ isse. Mas eu ache que faltas a muitas marés de mar…Iste é o qu’eu oiçe dezer p’raí!

- É obra à óh! Eu tabém oiçe muitas coisas e ande aqui calade… Medemes agora de mas é de conversa, já ‘tou farte de te óvir dezer ma.l e já ‘tou a ficar chatiade.

Ouve cá, donde vinhas tu ontem de manhã, até levavas um embrulho num casaque d’óleade… Pareceu-me ver um peixe grande!

- É obra… onde ‘tavas tu tão cede pa’me vires passar Virguline?!

- Eu,ss tava em casa à ‘esnela a ver o tempe!

- ‘Tavas assim tão preocupade co’tempe… A essa hora vinha do corrimão, olha uma noite perdida, mas ainda apanhei um robal!

- Apanhaste um rebal… É obra, a sorte vai sempre p’ós mesmes à òs!

- Pois vai, se tu levantasses o cuzinhe do banque, e se fizesses pa’vida podia ser que tivesses melhor sorte… Olha,lá anda a tua melher a fessar muitas vezes, pa te dar de comer! Eu bem a veje coitada, acarregar os cabazes à cabeça, pa’ganhar alguma coisa!

- Ainda me fazes ir imbora, só pa’na’me chatiar contigue!

- Pois é na te convém ouvir as verdades… Dizes às pessoas que te dói a cabeça e as costas, isse é só meleza! Tu já vites ‘cas fechaduras e debradiças que na’trabalhem enferrujem e ficam presas… É o qu’acontece ós teus osses!

O q’ade dezer a tu’ melher… que ca’nde a costa na ‘tá negada fica arrebentadinha de tante carregue; ela nunca se nega ó trabalhe, é uma triste!

-S’eu fosse a ela, fazia comó pai me dezia antigamente:- Na casa deste homem, quem na’trabalha na come… E, olha que trabalhar, é um vício muite bonite… E ele tinha razão c’as palavras dele!

Acos’tumôu-nos a ir à procura do trabalhe, antes ca’fome viesse ter com a gente. Nunca t’anhas mede nem vergonha de ser um homem de trabalhe; olha ca’preguiça é a mãe de todos os vices!

- Mas já viram iste, mas que mal fiz eu… Já me tava a ir imbora e fiquei aqui fête de parve óvir um sermão, sem necidade… ‘Tás aí qué’s o Padre Casemire, iste é obra na praia!

- Pois pois, chama-lhe nomes!

- A Ti’Ana (taberneira que nunca se metia nas conversas dos clientes, assim que o Virgulino saiu disse:- À Alberto não gastes cera com ruim defunto. Ele já não perde este feitio… Ele nunca gostou de trabalhar, isto já vem quando ele era mais novo… Mas olha, fiado ele já não bebe aqui nada, se me pedir um copo com água ainda lhe dou, mas ele não gosta dela; eu já o conheço de ginjeira!

Encosta-se sempre aí junto do barril, a ver se alguém lhe paga um mata-bicho… E às vezes até tem sorte… O vício que ele tem pela bebida, é até morrer!

- À Ti’Ana, cá por mim ele na´merece nada!

Fim do 11º Episódio

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