Elvira, ouvia a patroa um pouco comovida, mas agora ficava mais descansada.
Elvira – Ainda bem, vamos ver se vai tudo correr como a patroa diz!
No dia seguinte, João levantou-se muito cedo, silenciosamente e dirigiu-se ao quarto da senhora Constância.
João – Ah! Já está acordada… A senhora ’Tância está melhor?
Foram as primeiras palavras do João, ele não trocava nada pela presença da sua amiga.
A enferma compreendia a ansiedade do garoto e lá fazia um esforço para trocar algumas palavras, para que o sorriso do seu amigo, não se perdesse ao longo do dia, mas as dores ainda permaneciam.
Elvira também andava muito preocupada, as recomendações da patroa, não lhe davam total tranquilidade.
Elvira – Eu sei lá o que me vai acontecer. Esta gente da tropa pode ter atitudes grosseiras, valha-me Deus…Eu não sei o que fazer!
Mais tarde, perto da hora do almoço, o Alberto entra em casa.
Alberto – Boa tarde, Elvira. Então a minha mãe, como está?
Elvira sentia-se nervosa, tinha agora que enfrentar mais um obstáculo, mas ela reagiu rapidamente.
Elvira – A senhora sua mãe está na cama. Sofreu uma queimadura na perna mas não se preocupe, ela está bem!
Alberto – Queimadura… Mas como aconteceu isso?
Alberto, poisou as malas para se dirigir rapidamente ao quarto. Constância já estava preparada para esta visita e, com a melhor disposição, beijou o seu filho.
Alberto – Então minha mãe, a Elvira disse-me que...
Constância – Anda cá meu filho, senta-te aqui junto de mim que eu vou contar-te como isto aconteceu.
Constância tranquilizou o filho para depois o informar. O Alberto, depois de escutar o caso, lamentou-o porque ele gostava muito da sua mãe.
Entretanto, a criada arrumava as malas para se dirigir ao quarto da patroa, chegava a hora do almoço.
Alberto ao atravessar o corredor encontrou-se com o pequeno João
João – Olá Alberto. Como estás, bem ou mal?
Alberto – Estou muito bem e, como sempre, bem disposto!
João – Olha, já estava a sentir a tua falta! Sabes, eu já tenho outro amigo… Ele deu-me este pião, tenho aqui no bolso, vês! Estou triste por não saber jogar como os outros meninos! É verdade Alberto, tu podias ensinar-me!
Alberto – Pois posso. Este brinquedo foi a minha companhia quando eu era rapaz e era nesta rua e no caminho da escola que nós organizávamos os jogos. Tu depois vais ver!
Bem, agora vamos lavar as mãos. A tua mãe está a preparar a mesa para irmos almoçar.
Depois de um pequeno repouso o João pediu ao Alberto para dar um passeio até a beira mar.
Numa bonita tarde de setembro, o movimento na praia era constante.
O mar estava um pouco agitado mas os pescadores conhecedores da situação, não tinham dificuldades na entrada e saída das embarcações no mar.
O Alberto e o João, a certa altura, apreciavam a alaguem de uma rede na praia. O João, de olhar espantado, dava conta dos movimentos dos pescadores e das mulheres, e também da rapaziada que também ajudava os pescadores com grande entusiasmo.
A rede estava a chegar ao fim da alagem. O Alberto seguia o João com o olhar, não fosse ele descuidar-se e ser apanhado por uma onda traiçoeira. Pouco depois, os pescadores apressavam as passadas. Lá na frente, uma voz fez-se ouvir:
Pescador – A rede trás peixe! Puxa acima, rapaziada! Ala arriba!
Todos se esforçavam para puxar o saco cheio. Alberto chama o João para perto de si, mas ficara distraído com o seu entusiasmo ao ver o peixe a saltar fora da rede, de tal maneira que corria atrás dos carapaus, os quais procuravam a fuga para o mar.
O João, finalmente tinha apanhado um peixe, sorria de contente para o seu prisioneiro mas, depois o inesperado acontecia, uma onda mais violenta levou o João na ressaca.
O Alberto tinha deixado de ver o garoto no meio dos pescadores, enquanto um grito de uma mulher se fez ouvir:
Mulher – Acudam, acudam... Uma criança foi p’o mar abaixo!
A companha, entusiasmada com o peixe não reparou na aflição da mulher mas ela continuava a gritar cada vez mais alto:
Mulher – Acudam aquela olha ali uma criança está-se afogar!
O boné tinha sido devolvido pelo mar. O Alberto, um pouco confundido, adivinhava. O João, era o seu amigo.
Todos olhavam para o mar mas não viam nada. O Alberto, mesmo assim entrou no mar sem retirar a roupa. As ondas espraiavam na praia e o peixe continuando a saltar, já ninguém lhe tocava ao saber do acidente. Até que um pescador saiu do grupo, olhou o mar e disse:
Pescador – Eu já vi o menino!
Tirou as ceroulas e a camisa e pediu um cabo que o amarrara à cintura. O pescador mergulhou, deu algumas braçadas, sempre com o pensamento em Nossa Senhora da Nazaré.
Pescador – Ajuda-me Nossa Senhora a salvar o menino!
Fim do 8º Episódio
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