Início do 10º Episódio
Alguns dias depois, sem alguma novidade. O tempo apresentava-se agora bom, alguns barcos fizeram-se ao mar, mas nos rostos dos pescadores ainda se podia ver a marca da dor de algumas vidas perdidas.
O Ti’ Miguel, mais conformado, ao cair do dia, dirigiu-se a casa do Fateixa. A Joana abriu a porta, ao ver na sua frente o pai do João, sorriu um pouco.
Joana - Olha o Ti’ Manel, entre, entre p’a dentre. Sente-se aí um bocadinhe!
Ti’ Manel - Obrigado. Ai as ‘nhas pernas, parece qu’as sinte presas. Mas, iste vai, iste vai devagar.
Olha Joana, eu vinha aqui p’a falar c’o tê’ filhe, ele ‘tá em casa?
Joana - ‘Inda nã’ vê’, a esta hora deve ‘tar na taberna c’a companha mas na’ tarda que chegue aí!
Ti’ Manel - Eu qu’ria falar com ele e agradecer o qu’ele fez por mim.
À ‘miga, nã’ me lembra de nada, perdi os sentides q’ande procurava agarrar-me à bóia das tranê’ra mas hoje já sê’ com’as coisas aconteceram, e já chorê’ bastante!
O Fateixa foi um herói. Cada vez que me lembra ‘inda há dias tinha tide ‘ma conversa com ele à porta do hospital, onde nã’ fui nada correcto, até me sinto envergonhado podes crer!
Até te digo, ele tem muita razão p’a na’ falar comigo! O mê’ filhe vê’ ontem do hospital, as coisas ‘tão a correr muite bem. Ele já ‘tá ao corrente do que se passou e quer falar c’o Fateixa assim qu’ele possa.
Joana - À Ti’ Manel, eu ‘tô’ tão contente nem que o rapaz você fosse da ‘nha famíl’a, veja lá!
O que lá vai, lá vai! Agora vamos voltr a ser bons amigos como antigamente. O mê’ filhe ta’bém vai ficar contente, vai ver…Sabe ‘ma coisa, ele tem andade chateado por não o dê’xar visitar o João no hospital.
Ti’ Manel - Dô’-lhe rezão sim senhora, na altura eu não o compreendi !
Pouco depois o Fateixa entrava em casa. O Ti’ Manel ao vê-lo levantou-se da cadeira, para se dirigir ao jovem, apertando-o junto ao peito, enquanto chorava comovido.
Ti’ Manel - Obrigado rapaz, mostraste que foste um homem. Fico eternamente agradecido por tudo. O mê’ filhe João tabém já sabe do caso, e quer ver-te, para te dar um grande abraço.
Fateixa - Obrigado p’as su’as palavras… Sabe o qu’eu fiz foi o mê’ dever, esqueça isse!
Eu nã’ tanhe rancor a ninguém e, como já lhe disse, sinto-me arrependide d’acontecer o acidente ‘ó João.Eu fui sempre amigo dele e vô’ continuar a ser, s’ele quiser!
Ti’ Manel - Ta’bém espero. O João ‘tá muite melhor, é só mais uma ó’ duas semanas!
Vamos agora falar doutras coisas. Olha Fateixa, eu vô’ dar-te ‘ma notícia que vai-te alegrar e ós tê’s pais ta’bém. Amanhã vamos falar c’o advogado p’a desistir da quê’xa contra ti. P’ra já é o qu’eu posse fazer!
O Fateixa já esperava por esta novidade, a mulher do Ti’ Manel, pelas palavras antes proferidas, indicava que iria ser benévola para com o jovem Fateixa. Ficar livre do tribunal era já uma boa recompensa.
Depois do Ti’ Manel expor as suas razões da sua visita, abraçou-se a ele comovido.
Chegou o Domingo da realização da Procissão do Senhor dos Passos. Com a presença do sol pela manhã e o céu sem nuvens adivinhava-se uma bonita tarde.
Pelas três horas da tarde muita gente já se encaminhava até á igreja. Os irmãos da Irmandade, assistiam à chamada das insígnias.
O Fateixa também participava na Procissão com uma lanterna ao andor de Nossa Senhora.
Pouco depois a Procissão desfilava ao som da banda da região. Maria da Nazaré, de olhar vigilante, observava todos os pontos. Estava interessada em ver alguém. A procissão avançava organizada, o jovem ladeava o andor de Nossa Senhora com a lanterna, mais atrás seguia a Maria da Nazaré acompanhada de uma amiga. Ao fim da tarde, junto à igreja, as imagens aguardavam, aos ombros dos irmãos, o sinal do presidente para as recolher.
O Fateixa também esperava a sua vez, quando vê à sua frente a Maria da Nazaré. Esta, depois de se aproximar, diz ao jovem:
Maria da Nazaré - Fateixa, eu espero por ti junto ao corete ó’vites?!
Fateixa, ao ouvir estas palavras ficou contente. Pouco depois tinha acontecido o combinado.
Fateixa - Olá Maria e companhia. A’tão, tens vinde acompanhar a procissão?
Maria da Nazaré - Eu vim, vim sempre perto de ti!
Fateixa – Olha eu nunca reparei em ti!
Bem, vamos andando, quero comprar-te ‘ma coisa, vamos ali!
Maria da Nazaré - Olha, chega aqui! Hoje vô’ falar c’o mê’ pai sobre o nosse namore, eu já sê’ qu’ele vai entrar em casa bastante contente, são dias disse. Vais ver que vai ser desta vez!
Ele agora, já fala doutra manê’ra de ti desde, é a melhor altura , por ajudares a salvar o Ti’ Manel, vê em ti outra pessoa.
No dia seguinte o Fateixa fez os possíveis para se encontrar com a Maria da Nazaré mas sem resultado. Depois do almoço realizava-se a última procissão. Durante o percurso ele encontrou a jovem.
Fateixa - Até qu’enfim que t’encontre. A'tão, tans boas notícias p’a me dares?
Fim Do 10º Episódio.
J.B.
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