Início do 9º Episódio
Maria da Nazaré - Boa tarde Fateixa, muitos parabéns p’a tua valentia, a praia ‘tá chê’a da tua boa acção.
Fateixa - Olá Maria, já nã’ te via há alguns dias.
Obrigado pela sua gentileza mas eu cumpri c’o mê’ dever. Lá porque tanhe andade desentendide c’o Ti’ Manel, q’ande se trata de salvar vidas, nã’ olhe a nomes.
Maria da Nazaré - Isse só te fica bem. Continua a ter juízo, só ganhas com isse.
Eu só tanhe pena é de ‘tarmos a falar num dia tão triste.
Cada vez que me lembra desta tragédia... lá foram mais cinco vidas p’a juntar às outras.
Fateixa - Nã’ fales mais nisse Maria, agora é p’a esquecer
Sabias qu’o Ti’ Manel ‘tá fora de p’rigo?
Maria - S’ube mê’me’agora.
Fateixa - Nã’ me digas que foi por eu ter ajudado a salvar o homem !
Maria da Nazaré - 'Tabem é em parte!
Fateixa - Ouve cá Maria, afinal tu nunca mais te resolves dar-me ‘ma resposta, acê’tas o nosso namoro ó’ não?
Maria da Nazaré - Podes acreditar que tive um dia destes, a falar nisse c’a ‘nha mãe sobre o assunto.
Fateixa - Que disse ela?
Maria da Nazaré - Ela não é contra, disse-me p’a eu apanhar um dia o mê’ pai bem disposto, p’a falar do nosso namoro!
Fateixa - Olha qu’ideia essa! Quer dezer, s’o tê’ pai andar sempre mal desposto nunca mais se resolve o nosso caso?! Eu, é como te digo, continuo à tua espera e nã’ façe ‘tinção de namorar outra rapariga!
Olha, vom até casa ver a ‘nha mãe, há bocade ‘tava apoquentada.
Maria da Nazaré - Olha, o tê’ pai, ia agora p’ra casa, a’tão até logo e tem juízo contigo!
Fateixa - Nã’ te falte a ti qu’a mim ta’bém não!
Até logo!
Fateixa, depois de olhar para o mar, reflectiu um pouco e voltou para casa.
A sua mãe ainda se encontrava encostada ao velho armário da cozinha, agora dialogando com o seu marido.
Fateixa - ‘Inda ‘tá aí, mãe!... ‘Tá bem desposta agora?
Joana - À filhe, agora ‘tô’ melhor sim!
Fateixa - A’tão, vamos lá falar sobre aquela trapalhada qu’eu nã’ entendi nada!
Joana - À filhe, até tô’ toda arrepiada com iste tude.
Isse que tu trazeste e dizes qu’ajudou o Ti’ Manel a salvar a vida !
Fateixa - Sim, é isse mê’me, diga lá!
Joana - Ai Senhor dos Passos, eu nã’ tanhe coragem p’a continuar, a desembrulhar!
O Fateixa agarra a madeira que tinha trazido para sua casa, a fim de mostrar um dia ao Ti’ Manel.
Iria ele acreditar que este volume tinha ajudado a salvar a vida?
Mas o caso estava agora envolvido num pequeno mistério. Fateixa tira o pano que envolvia a madeira e, pouco depois, retorquiu:
Fateixa - Mas, mas afinal iste é os bocades da recovê’ra qu’eu bati no João!
Como pode ter acontecide iste mãe?
Oiça cá, você nã’ fez desaparecer a vara como eu lhe pedi?
Joana - Pois não filhe!
Fateixa - Ah! Mas iste tem que ter uma explicação!
Joana - E tem filhe, eu vou explicar tude com’aconteceu.Tu lembras-te de me dezeres p’a quê’mar a recovê’ra?
Fateixa - Foi assim como diz!
Joana - Mas eu nã’ quê’mê’ com medo de te prejudicar.Ó depois conversêi’ c’o tê’ pai sobre o assunto e pensámos escondê-la em casa, até ver o qu’iste dava.
Num dia destes, q'ande ó'vimes dezer qu'a guarda andava à procura da arma do crime, ganhê’ medo e esta manhã, muito cedo, fui atirar c’a vara ‘ó mar, enrolada nessa camisola velha do tê’ pai. Fui c’o coração mas mãos, podes crer! Prontes, aí tens como isto aconteceu, sem tirar nem pôr!
Fateixa - Quer dezer, você foi esta madrugada atirar com iste ó mar?
Joana - Foi assim, é come dizes filhe, horas antes do acidente do Ti’ Manel. Naturalmente isse ficou aboiado na maré e o Ti’ Manel, enquanto nadava procurando salvar-se, encontrou isto por acaso.
Mas, cá p’ra mim ninguém me tira da cabeça qu’iste foi um grande milagre!
Vasco - À filhe, a tu’ mãe tem razão, este caso tem muite mister’. Eu tô’ p’a nã’ viver!
Fateixa - Realmente você tem razão, iste dá que pensar.
Vocês já viram qu’a vara que bateu no João, vê’ má’s tarde salvar o pai dele!
Este caso colocava a cabeça em água à família do Fateixa. Para quem acreditava em Deus, era um milagre mas, para os não crentes, era um verdadeiro mistério.
No dia seguinte, ainda cedo, o mar baixava a fúria das ondas.
Alguns pescadores, ao longo da costa, olhavam o limite da maré, a fim de encontrarem algum corpo do naufrágio.
Familiares e amigos, tristes com a tragédia, vestiam o traje negro, dos pés á cabeça.
As mulheres, vestidas do mesmo tom, continuavam a chorar em casa, na expectativa de receberem uma notícia que lhes pudesse aliviar um pouco a sua dor.
Fim do 9º Episódio
Inicício do1oº Episódio
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