Início do 5º Episódio
Entretanto, a Guarda Republicana, a pedido o Ti’Manel, pai do João, investigava o desaparecimento da recoveira, a arma do crime.
-Em casa do Vasco-
Vasco - Hoje à tarde vamos pôr a rede n’áuga, o tempe e o mar tá bom!
Joana - Era bom que viesse ó menos pê’xe p’a comer!
Vasco - Ouve cá, t’ans ólguma coisa p’ó jantar?
Joana - O qu’eu tanhe aí são uns poucos carapaus secos, vou cozê-los com umas batatas, e vivó velho, nã’ tanhe mais nada!
Vasco - Iste tá a ficar mau, nã’ se ganha nada!
Eu até ‘tava a pensar em pedir ólgum denher’ ó nosso mestre.
Eu nã’ goste muite de pedir, mas as coisas nã’ se compram sem denher!
Joana - Pois não, Vasco. E na mercearia já lá tem ‘ma conta boa !
Vasco - À Joana, assim que eu ganhe ólguma coisa, paga-se o que se puder, o homem tem fiado à gente porque confia na gente.
Ouve cá, com’é que tá isse da quê’xa do nosse filhe?
Sempre foi ó Tribunal d’Alcobaça?
Joana - Pois foi. Tu nã’ preguntas nada.
Olha qu’é tê’ filhe, nem se lembras disse!
Vasco – Sabes, qu’eu nã’ percebe nada disse de tribunais!
Joana - Eu nã’ sei, como ele se vai defender sem denher !
Ai Senhor, s’o mê Fateixa for preso eu nem quer pensar nisse… A gente tem que fazer ólguma coisa!
Vasco - Andas sempre p’a Igreja, reza ao Santíssimo que t’ajude nesta aflição !
Joana - Nã’ tanhas má língua, Vasco. Pede perdão a Deus,Já tens um exemplo em casa.
És tão amigo do Senhor dos Passos, e ‘tás a dezer uma coisa dessas!
Olha, ‘inda hoje vou alumiar a Nossa Senhora da Nazaré, tanho muita fé com ela, vais ver!
Vasco - Nã’ posse dezer nada logo desconfias! Olha qu’eu tabém acradite muite em Deus!
Joana - Olha, s’acraditas, vai à igreja e pede perdão ó Senhor!
Vasco - E vou mesm’e, amanhã s’a gente nã’ for ó mar, vou visitar o Senhor dos Passos!
Joana - Ache bem. Vê lá com’é que te portas na Igreja, agora benze-te c’a mão canhota!
Vasco - Tu és uma p’rigosa, o ano passado aconteceu isse, ‘tava destraíde!
Mudando agora d’assunte, olha qu’os pais do João passam por mim e nã’ me falam, já viste isse!
Joana - E tu se calhar, na fazias a mesma coisa!
Olha, eu vou dezer-te um segredo, mas é pa nã’ dezeres nada a ninguém, ó’vites!
Vasco - Da ‘nha parte podes ficar descansada, a ‘nha boca é com’ó saco quande vai p’á áuga!
Joana - Olha, se for com’aquela vez, ‘tá fazer dois anos vocês esqueceram-se de fechar o saco e as outras redes, à mê'ma hora, encheram todas de pê'xe... ‘tou bem servida!
Vasco – Nã’ me fales, nã’ me fales nisse, andê’ a pensar nessa desgraça mais de dois meses!
Mas, conta lá a’tão esse segredo!
Joana - Olha, o tê’ filhe nã’ quer qu’iste se saiba, ó’vites!
Bem, lá vai a’tão. O nosse filhe tem em casa a recoveira com que bateu nas costas do João, e s’ela for mostrada no tribunal é pior p’ra ele, percebes!
Mas o quê!! O tê’ filhe disse p’a queimá-la, mas nã’ sê’ o que faça!
Que dizes tu a iste?
Vasco - Essa agora! Olha qu’eu nunca sê de nada, à óóós!!
Mas como foi iste arranjado?
Joana - Há uns dias atrás, o rapaz foi desvirar a cabana toda do Zé Besugo, e lá estava a recoveira enrolada a um bocado de rede p’a levarem ó tribunal...
A Joana contou ao seu marido tudo o que sabia sobre o acidente.
Depois do diálogo, ambos resolveram não destruir a arma do crime.
Após de tanto pensar, decidiram esconder a vara, debaixo do velho soalho da cozinha, aí ficou guardada até nova solução.
Ao fim da tarde, os pescadores acabavam a faina na praia.
A pesca não compensava o trabalho, e entre tanta gente na lida diária, só alguns regressavam a casa com uma pequena porção de peixe, não mais do que para uma refeição.
No dia seguinte, Zé Fateixa, aproveitando o tempo disponível, resolve ir visitar o João ao hospital.
Os pais concordaram com a sua decisão.
Mais tarde, à porta do hospital, um grupo de pessoas esperavam pela hora da visita, entre eles o Ti Manel, pai do João, e a sua mãe, Amélia.
O Zé Fateixa, ao aproximar-se da entrada reparou então que a maioria dos presentes eram amigos do João, mesmo assim decidiu juntar-se ao grupo.
Seguidamente, o Fateixa aproveitou a ocasião para chamar em particular o pai do João:
Fateixa - À Ti’ Manel, eu precisava de falar consigo!
O Ti’ Manel ficou surpreendido com tal atitude, depois de uma pequena pausa, aproximou-se e disse-lhe:
Ti’ Manel - O que queres tu de mim, repá’?
Fim do 5º Episódio
J.B.
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