quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Recoveira

Início do 5º Episódio

Entretanto, a Guarda Republicana, a pedido o Ti’Manel, pai do João, investigava o desaparecimento da recoveira, a arma do crime.

-Em casa do Vasco-

Vasco - Hoje à tarde vamos pôr a rede n’áuga, o tempe e o mar tá bom!

Joana - Era bom que viesse ó menos pê’xe p’a comer!

Vasco - Ouve cá, t’ans ólguma coisa p’ó jantar?

Joana - O qu’eu tanhe aí são uns poucos carapaus secos, vou cozê-los com umas batatas, e vivó velho, nã’ tanhe mais nada!

Vasco - Iste tá a ficar mau, nã’ se ganha nada!

Eu até ‘tava a pensar em pedir ólgum denher’ ó nosso mestre.

Eu nã’ goste muite de pedir, mas as coisas nã’ se compram sem denher!

Joana - Pois não, Vasco. E na mercearia já lá tem ‘ma conta boa !

Vasco - À Joana, assim que eu ganhe ólguma coisa, paga-se o que se puder, o homem tem fiado à gente porque confia na gente.

Ouve cá, com’é que tá isse da quê’xa do nosse filhe?

Sempre foi ó Tribunal d’Alcobaça?

Joana - Pois foi. Tu nã’ preguntas nada.

Olha qu’é tê’ filhe, nem se lembras disse!

Vasco – Sabes, qu’eu nã’ percebe nada disse de tribunais!

Joana - Eu nã’ sei, como ele se vai defender sem denher !

Ai Senhor, s’o mê Fateixa for preso eu nem quer pensar nisse… A gente tem que fazer ólguma coisa!

Vasco - Andas sempre p’a Igreja, reza ao Santíssimo que t’ajude nesta aflição !

Joana - Nã’ tanhas má língua, Vasco. Pede perdão a Deus,Já tens um exemplo em casa.

És tão amigo do Senhor dos Passos, e ‘tás a dezer uma coisa dessas!

Olha, ‘inda hoje vou alumiar a Nossa Senhora da Nazaré, tanho muita fé com ela, vais ver!

Vasco - Nã’ posse dezer nada logo desconfias! Olha qu’eu tabém acradite muite em Deus!

Joana - Olha, s’acraditas, vai à igreja e pede perdão ó Senhor!

Vasco - E vou mesm’e, amanhã s’a gente nã’ for ó mar, vou visitar o Senhor dos Passos!

Joana - Ache bem. Vê lá com’é que te portas na Igreja, agora benze-te c’a mão canhota!

Vasco - Tu és uma p’rigosa, o ano passado aconteceu isse, ‘tava destraíde!

Mudando agora d’assunte, olha qu’os pais do João passam por mim e nã’ me falam, já viste isse!

Joana - E tu se calhar, na fazias a mesma coisa!

Olha, eu vou dezer-te um segredo, mas é pa nã’ dezeres nada a ninguém, ó’vites!

Vasco - Da ‘nha parte podes ficar descansada, a ‘nha boca é com’ó saco quande vai p’á áuga!

Joana - Olha, se for com’aquela vez, ‘tá fazer dois anos vocês esqueceram-se de fechar o saco e as outras redes, à mê'ma hora, encheram todas de pê'xe... ‘tou bem servida!

Vasco – Nã’ me fales, nã’ me fales nisse, andê’ a pensar nessa desgraça mais de dois meses!

Mas, conta lá a’tão esse segredo!

Joana - Olha, o tê’ filhe nã’ quer qu’iste se saiba, ó’vites!

Bem, lá vai a’tão. O nosse filhe tem em casa a recoveira com que bateu nas costas do João, e s’ela for mostrada no tribunal é pior p’ra ele, percebes!

Mas o quê!! O tê’ filhe disse p’a queimá-la, mas nã’ sê’ o que faça!

Que dizes tu a iste?

Vasco - Essa agora! Olha qu’eu nunca sê de nada, à óóós!!

Mas como foi iste arranjado?

Joana - Há uns dias atrás, o rapaz foi desvirar a cabana toda do Zé Besugo, e lá estava a recoveira enrolada a um bocado de rede p’a levarem ó tribunal...

A Joana contou ao seu marido tudo o que sabia sobre o acidente.

Depois do diálogo, ambos resolveram não destruir a arma do crime.

Após de tanto pensar, decidiram esconder a vara, debaixo do velho soalho da cozinha, aí ficou guardada até nova solução.

Ao fim da tarde, os pescadores acabavam a faina na praia.

A pesca não compensava o trabalho, e entre tanta gente na lida diária, só alguns regressavam a casa com uma pequena porção de peixe, não mais do que para uma refeição.

No dia seguinte, Zé Fateixa, aproveitando o tempo disponível, resolve ir visitar o João ao hospital.

Os pais concordaram com a sua decisão.

Mais tarde, à porta do hospital, um grupo de pessoas esperavam pela hora da visita, entre eles o Ti Manel, pai do João, e a sua mãe, Amélia.

O Zé Fateixa, ao aproximar-se da entrada reparou então que a maioria dos presentes eram amigos do João, mesmo assim decidiu juntar-se ao grupo.

Seguidamente, o Fateixa aproveitou a ocasião para chamar em particular o pai do João:

Fateixa - À Ti’ Manel, eu precisava de falar consigo!

O Ti’ Manel ficou surpreendido com tal atitude, depois de uma pequena pausa, aproximou-se e disse-lhe:

Ti’ Manel - O que queres tu de mim, repá’?

Fim do 5º Episódio

J.B.

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