terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Recoveira

Início do 4º Episódio – A Recoveira

Fateixa - Espero bem que sim, a nã’ ser que você quê'ra qu’eu vá p’á cadeia!

Joana - Mas o que tem a recoveira a ver c’a cadeia?

Fateixa - À mãe, oiça com atenção! Vá lá nã’ 'teja já a fazer essa cara choradeira, 'tá bem!

Oiça, foi c’aquela recoveira qu’eu parti as costelas ao João, e se ela for apresentada no tribunal, as testemunhas vão dezer a verdade, percebeu agora?

Fui eu qu’a roubei da cabana do Tó Besugo.

Joana - Ai Senhor, onde tu te foste meter filho! A’tão, e agora?

Fateixa - Olhe, agora é como lhe dige, cale-se e na diga nada a ninguém!

Joana - À filhe, iste é muite confuse pá ‘nha cabecinha !

Ouve cá, e s’eles sóberem que foste tu que roubaste a recoveira?

Fateixa – Nã’ se rale com isse, eu cá m'arranje, ninguém me viu sair da cabana.

Você já tá fazer muitas perguntas!

Depois de sair da casa o seu filho, a Joana ficou a pensar no caso!

Joana - O mê’ Zé se calhar ‘tá a pensar muito mal, s’eu queimar a recoveira é pior p’ra ele, nã’ vá ele ser preso mais depressa! Ai Senhor dos Passos me ajude nesta aflição, eu já nã’ sê o que fazer!

Eu tanhe que conversar c’o mê homem sobre iste!

A Joana, estava realmente confusa, só de ouvir falar do tribunal, ficava nervosa, nunca na sua vida tinha lá entrado.

Entretanto, o Zé Fateixa já descia a rua até à praia. Mais abaixo também seguia a Maria da Nazaré.

O Fateixa, com uma assobiadela, fez com a jovem olhasse para trás, no sentido de dialogar com ela0.

Fateixa - Olá Maria, a’tão Já há alguns dias que nã’ te vejo, tans ‘tade doente, ou ainda são os efeitos do Carnaval?

Maria da Nazaré - Carnaval, p’ra mim não, mas p’ra ti tá bem, correste os balhes todes, c’a cegada devias ter balhade bastante!

Fateixa – È é!! Iss’é ciúme!

Bem, dê’xemos agora essas coisas, o qu’eu te queria dezer, p’ra mim é importante.

Maria da Nazaré - Vamos lá ver o que vai sair daí.

Fateixa - Nã’ brinques c’o caso é sério.

Tu ficaste desconfiada c’o verso da cegada, mas não era uma piada p’ra ti!

Maria da Nazaré - Pois foi. Mas eu já sei qu’a graça era p’a outra rapariga, olha desculpa se te ofendi !

Fateixa - Assim já fico mais descansado. Eu ólguma vez ia fazer um disparate desses!

Olha qu’eu tanho muito respeito p’a rapariga qu’eu gosto !

Maria da Nazaré - Eina, o qu’aí vai Tonho!

Fateixa - É verdade Maria, ouve cá, porque andas assim afastada !

Eu jure-te que nã’ vais te livrar-te de mim!

Maria da Nazaré - Tu já sabes a razão, nã’ é precise ‘tar sempre a dezer a mê’ma coisa!

Fateixa - Prontes, já sei, é o tê’ pai, não é?

Mas tu ta'bem podias fazer uma forcinha, ou é por causa d’eu ser pobre!

Maria da Nazaré - Ouve Fateixa, as coisas nã’ te são favoráveis, a gaita da zaragata que tiveste c’o João, ainda veio piorar as coisas! Com vinagre na s’apanham moscas!

Fateixa - Lá vem outra vez o coitadinho do João, ninguém fala do dente qu’ele me partiu.

Pa te dezer a verdade eu já m’arrependi do que fiz, perdi a cabeça, prontes!

Maria da Nazaré - Ouve cá, porque na vais tu ver o João p’a lhe pedires desculpa!

Os pais dele estão muito revoltados, e têm razões p’ra isse!

Fateixa - Ólgumas pessoas já me disseram a mêsma coisa.

Se calhar um dia destes vou vê-lo, mas é com muite custe!

Maria da Nazaré - Já podias ter evitado c’as bocas do mundo falassem tanto de ti…

É verdade, a Guarda Republicana já foi duas vezes a casa do pai do João.

Eu ainda ó’vi dezer p’ó guarda: “Mas quem seria que fez isto?

Fateixa - Ouve cá, tu dizes qu’eles vinham da cabana?

Maria da Nazaré - Vinham de certeza, eu vi!

Mas tu sabes ólguma coisa?

Faceta - Nã’, nã’ sê’ mas acho estranhe!

Olha, o melhor é ires andando, já te demoraste muite tempo, até logo!

O Zé Fateixa ao receber a notícia da presença da Guarda Republicana ficou preocupado e, para que a Maria da Nazaré não desconfiasse do seu envolvimento no caso, disfarçou o diálogo, acabando por se afastar.

Fim do 4º Episódio

J. B.

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