Início do 4º Episódio – A Recoveira
Fateixa - Espero bem que sim, a nã’ ser que você quê'ra qu’eu vá p’á cadeia!
Joana - Mas o que tem a recoveira a ver c’a cadeia?
Fateixa - À mãe, oiça com atenção! Vá lá nã’ 'teja já a fazer essa cara choradeira, 'tá bem!
Oiça, foi c’aquela recoveira qu’eu parti as costelas ao João, e se ela for apresentada no tribunal, as testemunhas vão dezer a verdade, percebeu agora?
Fui eu qu’a roubei da cabana do Tó Besugo.
Joana - Ai Senhor, onde tu te foste meter filho! A’tão, e agora?
Fateixa - Olhe, agora é como lhe dige, cale-se e na diga nada a ninguém!
Joana - À filhe, iste é muite confuse pá ‘nha cabecinha !
Ouve cá, e s’eles sóberem que foste tu que roubaste a recoveira?
Fateixa – Nã’ se rale com isse, eu cá m'arranje, ninguém me viu sair da cabana.
Você já tá fazer muitas perguntas!
Depois de sair da casa o seu filho, a Joana ficou a pensar no caso!
Joana - O mê’ Zé se calhar ‘tá a pensar muito mal, s’eu queimar a recoveira é pior p’ra ele, nã’ vá ele ser preso mais depressa! Ai Senhor dos Passos me ajude nesta aflição, eu já nã’ sê o que fazer!
Eu tanhe que conversar c’o mê homem sobre iste!
A Joana, estava realmente confusa, só de ouvir falar do tribunal, ficava nervosa, nunca na sua vida tinha lá entrado.
Entretanto, o Zé Fateixa já descia a rua até à praia. Mais abaixo também seguia a Maria da Nazaré.
O Fateixa, com uma assobiadela, fez com a jovem olhasse para trás, no sentido de dialogar com ela0.
Fateixa - Olá Maria, a’tão Já há alguns dias que nã’ te vejo, tans ‘tade doente, ou ainda são os efeitos do Carnaval?
Maria da Nazaré - Carnaval, p’ra mim não, mas p’ra ti tá bem, correste os balhes todes, c’a cegada devias ter balhade bastante!
Fateixa – È é!! Iss’é ciúme!
Bem, dê’xemos agora essas coisas, o qu’eu te queria dezer, p’ra mim é importante.
Maria da Nazaré - Vamos lá ver o que vai sair daí.
Fateixa - Nã’ brinques c’o caso é sério.
Tu ficaste desconfiada c’o verso da cegada, mas não era uma piada p’ra ti!
Maria da Nazaré - Pois foi. Mas eu já sei qu’a graça era p’a outra rapariga, olha desculpa se te ofendi !
Fateixa - Assim já fico mais descansado. Eu ólguma vez ia fazer um disparate desses!
Olha qu’eu tanho muito respeito p’a rapariga qu’eu gosto !
Maria da Nazaré - Eina, o qu’aí vai Tonho!
Fateixa - É verdade Maria, ouve cá, porque andas assim afastada !
Eu jure-te que nã’ vais te livrar-te de mim!
Maria da Nazaré - Tu já sabes a razão, nã’ é precise ‘tar sempre a dezer a mê’ma coisa!
Fateixa - Prontes, já sei, é o tê’ pai, não é?
Mas tu ta'bem podias fazer uma forcinha, ou é por causa d’eu ser pobre!
Maria da Nazaré - Ouve Fateixa, as coisas nã’ te são favoráveis, a gaita da zaragata que tiveste c’o João, ainda veio piorar as coisas! Com vinagre na s’apanham moscas!
Fateixa - Lá vem outra vez o coitadinho do João, ninguém fala do dente qu’ele me partiu.
Pa te dezer a verdade eu já m’arrependi do que fiz, perdi a cabeça, prontes!
Maria da Nazaré - Ouve cá, porque na vais tu ver o João p’a lhe pedires desculpa!
Os pais dele estão muito revoltados, e têm razões p’ra isse!
Fateixa - Ólgumas pessoas já me disseram a mêsma coisa.
Se calhar um dia destes vou vê-lo, mas é com muite custe!
Maria da Nazaré - Já podias ter evitado c’as bocas do mundo falassem tanto de ti…
É verdade, a Guarda Republicana já foi duas vezes a casa do pai do João.
Eu ainda ó’vi dezer p’ó guarda: “Mas quem seria que fez isto?
Fateixa - Ouve cá, tu dizes qu’eles vinham da cabana?
Maria da Nazaré - Vinham de certeza, eu vi!
Mas tu sabes ólguma coisa?
Faceta - Nã’, nã’ sê’ mas acho estranhe!
Olha, o melhor é ires andando, já te demoraste muite tempo, até logo!
O Zé Fateixa ao receber a notícia da presença da Guarda Republicana ficou preocupado e, para que a Maria da Nazaré não desconfiasse do seu envolvimento no caso, disfarçou o diálogo, acabando por se afastar.
Fim do 4º Episódio
J. B.
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