sábado, 3 de setembro de 2011

A Recoveira

Início do 3º Episódio

Numa outra taberna, a clientela cantava alegremente algumas cantigas, a Maria também estava presente.

O Fateixa aproximou-se da jovem:

Fateixa - Ouve cá Maria, porque nã’ esperaste até ó fim da cegada?

A Maria da Nazaré não gostara de uma quadra que foi cantada, ficando a pensar que a piada lhe era dirigida.

O Fateixa, por sua vez, ficara indignado com a sua resposta.

Fateixa - Quem foi que te disse isse, Maria?

Maria – Ó’vi eu, e eu entendi qu’era comigo!

Fateixa – A’tão, eu é que fiz quase toda a cegada, como pode ser isse verdade?

Deves ‘tar a fazer confusão!

Maria - Eu tanhe que m’ir embora.

Fateixa - Nós vamos qu’a cegada ós balhes agente depois fala!

Maria - Vai-te embora, o mê’ pai vem aí e ele já tá bastante sastefe’to!

O pai da Maria da Nazaré, e o Besugo, dirigiu-se até à porta.

A sua filha, reparando nele,e chamou-o:

Maria - À mê’ pai, tom aqui, vamos p’ra casa, ande!

Besugo- Maria, à filha do mê’ coração. O tê’ pai hoje tá um bocadinho sastefe’to, são alturas disse!

Ouve cá, quem era o rapaz que ‘tava a falar agora contigo, filha?

Maria - Era o Fateixa. Vinha me pedir ‘ma saia pa’ levar na cegada.

Besugo - O Fateixa, é sempre o Fateixa, tans que ter cuidade Maria! Parece qu’o Fateixa anda abusar… Maria, Maria olha o que andas p’rái a fazer! Olha s’inganas o tê pai, parte-te um braçe, óvites!

Maria da Nazaré seguia em direcção à sua casa, na companhia de seu pai.

Durante o Carnaval era habitual os brincalhões,  beberem um copo a mais.O Besugo não fugia à regra, além de ser um homem educado, calmo e também de poucas palavras, quando ébrio modificava o seu comportamento.

Os seus rivais mais diretos eram sempre atingidos nos seus desabafos, a sua filha não tolerava tanta crítica.

Maria da Nazaré - Credo, tanto falar!

Agarre-se a mim, ande pá frente pai, temos quase a chegar a casa!

Zé Besugo - Tem calma filha, o tê' pai é o tê’ pai, não é uma coisa q’ólquer, ó'vites!

Se ‘tás com pressa p'a ires falar c'o Fateixa sem mim, nem penses!

Maria da Nazaré - À pai, nã’ fale das pessoas que nã’ têm nada a ver com iste!

Oiça cá, que tem você contra o Fateixa?

Zé Besugo - O que é que tanho, essa agora!

Tu julgas qu’eu nã’ sei qu’ele anda atrás de ti p’a te pedir namoro, sou cego ó’ quê?!

Ele dantes até era bom rapaz mas, agora até deu em ser assassino.

Coitado do João, se apanha a pancada p’a cabeça matava o rapaz !

A justiça devia metê-lo na cadê'a, isse 'tá bem!

Maria da Nazaré - Ande lá, ande lá!Tanta conversa, ponha o pé no arrebate (degrau).

Já chegámos a casa. Amanhã a gente conversa melhor!

Zé Besugo - O que tu nã’ queres, é ó'vir os conselhos do tê' pai !

Na quarta-feira de Cinzas, o Carnaval chegava ao fim.

A Maria da Nazaré, como era da vontade do seu pai, não lhe dava largas para gozar os dias de maior folia do ano.

O Fateixa, um jovem interessado em pedir a mão da Maria da Nazaré, divertiu-se na medida do possível, exibindo a sua cegada e pouco mais.

O João continuava no Hospital e o caso da sua agressão provocado pelo Fateixa, já pouco era falado devido às novidades do ambiente carnavalesco.

Entretanto, a atividade piscatória voltava ao normal.

Na quadra da Quaresma, aguardava-se algumas semanas para a realização das Procissões do Senhor dos Passos, uma tradição bastante antiga em que o povo colaborava com grande devoção.

Uma semana depois, a mãe do Fateixa dialogava em casa com o seu filho.

A certa altura perguntou-lhe:

Joana – Ouve cá filhe, tens debaixo da cama uma recovera partida ó mê', p’ra qu’é aquile?!

Fateixa - Ééé... você anda sempre a faroar tude!

Olhe, parti’ós bocades pa’ queimar em vez de lenha!

Joana - Mas, o que tem ‘tade aquilo a fazer ali,nã’ me dizes!

Fateixa – ‘Tá bem! Eu vom dezer a verdade, mas você fica já avisada… Nã’ vai contar a ninguém, a nossa conversa, ó'viu?!

Joana - Mas que grande coisa... da ‘nha boca nã’ vai sair nada, podes contar o que quiseres à vontade!

Fim do 3º Episódio

J.B.

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