quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A Criada

1º Episódio

Em Novembro de 1950, a Elvira, natural do Alentejo, chegava pela primeira vez à Nazaré.

Uma jovem de estatura baixa, em que as suas vinte e cinco primaveras tinham já uma história triste para contar.

No seu passo vagaroso, transportava uma mala velha, seguindo a seu lado, o pequeno João, seu filho, pegando na saia escura, encoberta pelo comprido xaile preto já ruçado.

Ao longo da marginal, uma paragem de vez em quando, testemunhava a admiração de Elvira, sentida no momento do percurso.

- Vês João, olha além…Isto é o que chamam o mar, perde-se de vista, esta grande quantidade de água!

Esta novidade pouco dizia ao pequeno João. Em contrapartida ele entusiasmava-se, com a mudança de ambiente. O João estava na frente de um mundo completamente novo. Saltar para o areal era o seu maior desejo naquele momento.

Ali bem perto brincavam outras crianças, com barquinhos de cortiça e miolo de piteira.

O João parecia extasiado, as suas pernas não queriam andar.

A sua mãe, por vezes, voltava atrás para o chamar, mas o pequeno nem por nada queria avançar, tal era o seu entusiasmo.

Mais adiante, outros lugares eram demoradamente apreciados, e mais ainda quando os olhos famintos de Elvira se fixaram no vistoso promontório, onde sita a Capelinha de Nossa Senhora da Nazaré.

A forasteira nunca vira coisa igual e, ao mesmo tempo, ela sentia que este ambiente lhe dava outro alento, como nunca teve na sua vida.

O seu coração absorvia um pouco de alegria, há muito inexistente na sua vida.

Agora, mais do que nunca, desejava uma mudança com melhor garantia no futuro.

O seu filho era a única jóia que lhe restava, e o seu crescimento trazia-lhe cada vez mais preocupações.

O marido de Elvira morrera há cinco anos onde foi vítima de um acidente mortal. Pedreiro de ofício, mal ganhava para o seu sustento da família. Por esse motivo, a família ficou num estado de pobreza.

Alguns habitantes reconheceram a necessidade da viúva, dias depois organizaram um peditório para minimizar as despesas do funeral.

Cinco anos depois deste acontecimento, Elvira encontrou-se com a Rosa na aldeia. Uma grande amiga dos tempos da infância, estando, presentemente, a gozar alguns dias de férias.

Aproveitando o encontro, a viúva fez o relato de sua posição.

Rosa escutava-a comovida.

Pouco depois, soluçava continuamente, pousando os seus braços nos ombros da viúva.

- Pois é mulher… Eu até gostava de te ajudar.

Eu quero-te tanto como um familiar meu mas, até estou a pensar... Talvez queiras que eu descubra um trabalho para ti na Nazaré! Como sabes, eu continuo a trabalhar na mesma casa.

Que dizes tu a esta minha ideia?

Elvira, ao ouvir a sua amiga ergueu os braços dizendo-lhe:

- Rosa, faz isso pelo meu filho, se conseguires trabalho para mim manda-me dizer imediatamente.

O diálogo continuou entre as duas amigas enquanto o João brincava alegremente ali perto.

Rosa chamou o garoto:

- Olha Joãozinho, eu vou ver se consigo levar-te para a Nazaré,queres?

O João ignorava a promessa, o que ele queria era brincar, enquanto nos olhos de Elvira acontecia algo novo.

A sua amiga Rosa estava empregada há dez anos, em casa de um casal idoso, na Nazaré.

A sua honestidade dava garantias aos seus patrões, sendo já considerada parte da família.

Passadas algumas semanas, a Rosa não esquecera o que tinha prometido à sua amiga mas, alguma coisa já tinha acontecido.

Fim do1º Episódio

J. B.

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