4º e Último Episódio
Para muitos vizinhos era o fim da crença popular, do aparecimento do lobisomem.
No outro dia seguinte o mistério era desvendado pelo Joaquim. Com menos dores, ele sentia-se bem disposto. Resolveu ir contar tudo à sua mãe, mas de outra maneira, nunca sabendo a verdade do caso. O Joaquim não a queria deixar preocupada. Américo Peixão, era o único que tinha de saber, por essa razão, resolveu contar toda a verdade dos momentos mais difíceis de algumas pessoas.
Joaquim – Oiça cá Ti’ Américo, você vai-me perdoar o que fiz. Nã’ sê se sabe com’iste aconteceu.
Mas eu vou directo ao assunto. Eu gosto muito da sua filha, ‘tá ó’vir, e era ela que vinha comigo, no dia que m’apanharam pensando que era o lobisomem.
P’ra ninguém saber do nosso namoro, eu fazia isto às escondidas.
Mas, posso jurar que nunca fiz mal a piquena. Nunca tive coragem de falar consigo, e também tinha medo que você nã’ ó’trizasse o nosso namoro.
Resolvi então, quando ia buscá-la ao armazém, disfarçar-me e meter medo a quem passava nas ruas pela madrugada, pá’gente andar mais à vontade.
O Américo Peixão ouvia o rapaz, admirado com a sua esperteza.
Américo – Mas, afinal donde veio esta tua ideia?
Joaquim ficou um pouco silencioso. Tratava-se de um grande segredo mas resolveu contar a verdade.
Joaquim – Sabe Ti’ Américo, o mê’ falecide avô fazia muitas vezes estas aventuras. As intenções dele eram outras. Tinha prazer em assustar as pessoas, principalmente as mulheres que fugiam assustadas p’ra casa. Depois fechavam –se em casa a sete chaves.
Américo – (aborrecido) Bincadei ras de mau gosto, nã’ é Jô’quim !
Joaquim – O mê’ avô conversava comigo muitas vezes ao serão, e nunca repetia a mesma história. Era um homem aventureiro eu admirava-o!
Um dia disse p’ra mim « Quando fores mais crescido eu vou-te ensinar como se deve assustar as raparigas. Com o fato qu’eu tanho escondido no sótão, é o suficiente. Olha qu’a tua avó nunca chegou a saber do mê’ segredo!
É verdade, morreu e nunca soube qu’eu era o terror desta gentinha aqui dos arredores. Deus a tenha lá em descanso muito tempo sem nós… Tabém já rezei muito por ela!
‘Tá a ver Ti’ Américo, o qu’ele fazia, o meu avô era um homem esperto !
Américo – Eu cheguei a conhecer o têu avô muito bem. Tinha a mania de perseguir as mulheres, isso é verdade… Mas tabém passou um mau bocade com algumas raparigas!
Ta’bém digo, a verdade eu nunca s’ube qu’era ele qu’assustava as pessoas, e tanho a impressão que ninguém sabe disse!
O tê’ pai foi um homem mais calmo, e muito educado.
Olha Jô’quim, s’eu nã’ te conhecesse ia fazer mau juízo de ti, podes crer que falo verdade!
Podes ‘tar à vontade comigo e ainda te digo mais, se gostas da ‘nha filha e se tans boas intenções, podes ir quólquer dia lá a casa, falar comigo com mais calma.
- Uma semana depois, o Joaquim encontrava-se com a rapariga para lhe falar do futuro encontro com o seu pai.-
A Augusta sentia-se envergonhada por ser descoberta no caso falso do lobisomem. Agora, pior ainda porque andava a ser muito falada na vila.
Mas, como ela era uma mulher de têmpera rija, queria esquecer o passado e preparar a sua vida.
No dia seguinte, o Joaquim entrou em casa da Augusta para lhe pedir namoro. Alberto Peixão, depois de uma longa conversa, permitiu o namoro em casa, uma vez por semana com a filha sempre acompanhada.
O ambiente era de alegria, os jovens tinham na frente uma vida diferente a percorrer.
Como era tradição, o namoro prolongou-se durante alguns anos, vindo a celebrar o casamento no quarto ano.
Passados dois anos, nascera um lindo bebé. A Augusta ao saber que era um menino, ficou um pouco triste, ela preferia uma menina mas, paciência, um filho é sempre um filho.
O Joaquim, ao contrário, ficou radiante com a novidade, afinal o seu desejo era um rapaz.
Meses depois, havia festa em casa, era o baptizado do rapazinho, Joaquim António Peixão.
Sete anos depois, o Joaquim António entrava na escola. Era um rapaz esperto, bem constituído para a sua idade.
Um dia disse a seu pai:
Joaquim (filho) – Sabe pai, já tanho duas namoradas. Sabes quem são? São as nossas vezinhas, a Luísa e a Clodomira. Eu gosto muito delas.
O Joaquim ficou muito admirado com a conversa.
Joaquim – Olha filho, já que gostas de raparigas, quando fores maior o pai ensina-te ‘ma maneira de te divertires com elas. Vais ver qu’é muite divertido.
Eu quando era mais novo, eu ta’bém fazia a mesma coisa. E mais outra, filho de pê’xe sabe nadar, percebes?
O Joaquim e o filho deram uma longa gargalhada, encerrando assim o longo serão.
Final da história – O Lobisomem.-
J. Balau.
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