terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Recoveira

A RECOVEIRA

1º Episódio

O cena desenrola-se na Nazaré, no mês de Fevereiro de 1940.

A Taberna do José Maria era frequentada por muitos pescadores.

Parte da sua clientela nas horas livres, passava o tempo com o jogo da palheta, jogo muito popular nesta época do ano; era composto por duas bolas de madeira rija, entre 8 a 9 centímetros de diâmetro, um aro de ferro e duas palhetas de madeira.

O João era um dos melhores jogadores do torneio.

Os seus adversários faziam tudo para o derrotar e, quando isso acontecia era uma festa na taberna.

O seu maior rival era o António, mais conhecido pelo Zé da Fatecha.

Apesar desta rivalidade, ambos pretendiam conquistar o coração da Maria da Nazaré, filha do António Besugo, proprietário e mestre da empresa do arrasto do carapau.

Ao fim da tarde, o João discutia uma jogada duvidosa com o Fatecha.

O diálogo aqueceu até chegar a gestos agressivos.

Pouco depois, o Fatecha já sangrava na boca.

Ao ver-se assim, o agredido exaltou-se, correu para uma embarcação que se encontrava ali perto, pega numa recoveira (vara de madeira), volta rapidamente ao mesmo local da zanga, e bate com ela nas costas do João, vindo este a cair imediatamente no chão.

Os companheiros que assistiam ao conflito, acudiram ao agredido, protestando ao mesmo tempo, pela atitude maldosa do Fatecha.

Pouco depois.O João foi transportado ao hospital, tendo o médico de serviço diagnosticado três costelas fracturadas.

Este acontecimento correu toda a vila ficando o agressor em maus lençois.

Alguns amigos admiravam-se deste caso invulgar.

A arma do crime partiu-se em duas partes, sendo guardada por um amigo do João.

No dia seguinte, o Zé Fatecha voltou à empresa para a pesca.

Os seus colegas continuavam a lamentar o acidente. Entretanto, um familiar do João lamentou o acidente.

Familiar - Ouve cá Fatecha, tu nã’ devias fazer aquilo ó João.

Ele vai ficar alguns dois meses sem poder trabalhar.

Na minha opinião, tu devias ir ó hospital ò menos pedir desculpa!

Fatecha - Eu não ponho lá os pés, cada um sabe de si ‘tás óvir!

Familiar - Olha, os pais do João já arranjaram quatro testemunhas.

Eles vão levar-te ó Tribunal d’Alcobaça!

A recoveira com que lhe bateste no rapaz está guardada na cabana do Tó’ Besugo.

Os pais do João têm muito denher’ e vão fazer tudo p’a te meter na cadeia.

Fatecha - Nã’ me digas, que tu vais ser testemunha dele?

Familiar - Nã’ vou, mas até podia ir, eu vi tudo como aconteceu; olha, se queres que te diga,tu nã’ tinhas razão, a jogada do João foi limpa !

Fatecha - ‘Tá bem… Talvez ele tivesse razão, mas viste o qu’ele me fez! Partiu-me um dente!

Quem vai à guerra apanha e dá!

Familiar – À Fatecha, se achas bem o que fizeste, isso é contigo!

Ao fim da tarde o Zé Fatecha passava na rua da cabana do Tó Besugo, onde alguém tinha guardado a arma do crime, a recoveira.

Disfarçadamente, perto da porta, o Fatecha olhou em redor e, verificando que não era seguido, entrou na cabana, depois de tanto procurar, encontrou a vara escondida, enrolada a um pedaço de rede.

Ao sair, com cuidado, desapareceu ao fim da rua.

Cada vez mais, dia a dia a notícia espalhava-se na terra.

Fim do 1º Episódio

J. Balau.

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