3º Episódio
A Mariana ficou silenciosa, continuando a ajudar nas tarefas da casa.
Dias depois, a Lua Nova aproximava-se da sua fase. Os responsáveis pela armadilha continuavam a elaborar os seus planos.
Ninguém sabia da surpresa até que chegou o dia mais desejado.
A faina da pesca ocupava os pescadores durante todo o dia. A sardinha tinha saído com abundância e os armazéns estavam cheios até à porta.
As peixeiras, tinham trabalho dobrado durante o dia e parte da noite.
Alguns populares esqueciam-se da proximidade da noite e do possível aparecimento do vulto, que ninguém tinha descoberto.
Os autores do “assalto” não esqueceram a sua tarefa, continuando com os últimos preparativos, para o encontro com a assombração.
A noite caiu. O serão na taberna continuava como era hábito até a hora do fecho. As ruas estavam desertas, e os moradores na expectativa com certo receio .
Os mais curiosos, esses deixaram a janela entreaberta, para deste modo, espiar o movimento da rua.
A noite avançava, até que soou as badaladas da meia noite, vindas da torre da igreja acompanhadas do vento fresco de norte.
Os assaltantes composto por nove homens, em três grupos, dividiram-se pelas redondezas onde pela última vez tinha sido visto o estranho vulto.
Estavam passados cinco minutos após a meia noite, não se via nada fora do normal nas ruas.
Pouco depois, ao fundo da rua, lentamente, avançava um vulto. O grupo, mais próximo situado no cimo da mesma rua, tomou posição de ataque fazendo sinal, com a chama de um fósforo, ao grupo seguinte.
Passadas silenciosas desciam a rua. No cruzamento mais próximo, estava uma vara preparada para cair em cima do desconhecido. Ao mesmo tempo de uma janela de um primeiro andar, surgiu a voz de uma mulher, dando assim o alarme.
Mulher – Socorro, acudam aqui vai ele, é o lobisomem p’a rua abaixo... agarrem-no, matem-no duma vez!
O estranho vulto ao reparar que tinha sido descoberto diz para a sua companheira que vinha junto a ele, cobertos com um varino preto.
Vulto – Foge tu p’ra cima qu’eu vou p’ra baixo. Iste é ‘ma armadilha!
Assim aconteceu. O assaltante mais próximo, vendo o fugitivo fora do seu alcance, atira com o pau rasteiro fazendo tropeçar o vulto.
O grupo mais abaixo correu ao seu encontro, apanhando-o rapidamente.
Posto o vulto a descoberto, veio a surpresa geral.
Assaltante I – Ah! É o filho do mestre João, o Jô’quim Traquina. Mas afinal tu é que andavas a meter medo às pessoas, mas porquê fazias isto?
Outra voz surgiu na confusão:
Assaltante II – Ele hoje nã’ trás o rabo!
Joaquim – Ai, ai o mê’ pé, tô’ alêjade. Eu nã’ posso andar!
Américo – Mas tu ‘tás bem disfarçado, quem te deu estas roupas?
- O Joaquim continuava a gritar de dores.-
Joaquim – Ajudem-me qu’eu já conto tude a vocês. Eu nã’ queria fazer mal a ninguém!
- Pouco depois chegava uma rapariga.-
Augusta – Mas o que é iste aqui!! Quem é o lobisomem?
- Américo Peixão estava entre o grupo de assaltantes, ao ver ali a sua filha fica muito admirado.-
Américo – Ouve cá Augusta, que fazes tu aqui a estas horas?
- Augusta , também surpreendida, tentava disfarçar a sua presença.-
Augusta – ‘Atão eu saí agora mesmo do armazém, ó’vi trapaça e vim saber o que se passava!
- Américo, envergonhado, quase adivinhava o que se passava e continuou.-
Américo – Mas tu vens daí de cima e o armazém é lá em baixo!
Vai p’ra casa rapariga! A gente já conversa!
- O Joaquim continuava a gritar de dores.
Joaquim – Dê’xem a rapariga e levem-me p’ra casa por amor de Deus, nã’ posse andar. Ai, ai o mê’pé!
- Joaquim, finalmente o rapaz era transportado a casa. A sua mãe, Manuela, ao ser alertada do caso, gritava pelo seu filho, perguntando ao mesmo tempo:
Manuela – Mas o que é iste do mê’ rique filho?
Américo Peixão – Nã’ s’apoquente Manuela, foi um acidente sem importância! O sê’ filhe explica-lhe tudo amanhã. Trate do pé dele, ponha ‘ma ligadura com álcool p’áliviar a dor. Amanhã já ‘tá melhor!
Fim do3º Episódio
J.B.
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