2º Episódio
A Augusta não gostou da graça e, prontamente, respondeu a seu pai:
Augusta – Olhe que você ta’bém! Mas que disparate... namorar sem seu consentimento!
Eu nunca fazia ‘ma coisa dessas!
Alberto – Pronto filha, nã’ te quis ofender!
Bem, o melhor é irmos p’a cama que já são horas.
Dias depois, durante certa noite, aconteceu algo e, no dia seguinte, as mulheres estavam em grupos para relatar, mais uma vez, a presença do lobisomem. A Mariana parecia a mais assustada.
Mariana – À ‘migas, eu nã’ vô’ dormir descansada nos próximos dias. Só me lembra a ‘nha menina qu’anda de noite c’as colegas a trabalhar no armazém. Os homens deviam de se juntar todos, p’ássustar esse malvado. Ó’vi dezer qu’até tem um rabo grande.
Mas que mestére’ anda aqui... e nã’ sai desta rua, à melheres!
As vizinhas, assustadas, davam razão a Mariana.
Vizinha – Alguém tem que fazer qu’ólquer coisa p’ácalmar o povo.
A Augusta, filha da Mariana, regressava a casa. No percurso, encontrou sua mãe e, ao vê-la no grupo, perguntou.
Augusta – Aconteceu ólguma coisa mãe?
Mariana – Aconteceu sim filha, e nã’ foi pouco como isse! Anda lá, anda lá p’ra casa.
Já em casa, a Mariana fez-lhe o relato do acontecimento da noite passada.
Mariana _ É verdade, filha... foi visto ó’tra vez o lobisomem, à mê’a noite.
O Ti Artur, que mora lá em ‘rriba na rua viu-o a subir e a descer, duas vezes.
A Augusta não se impressionou com a arrepiante notícia.
Augusta – Oiça mãe, eu só vendo é qu’acredite nessa história.
A noite passada, este corpo ‘tá’qui, entrou em casa há uma da manhã.
Nem eu, nem as ‘nhas amigas viram tal coisa. Portante, nã’ s’apoquente, esqueça mas é isse!
A Mariana, admirada, olhava para a sua filha e, ao mesmo tempo, dizia para si:
- A ‘nha filha não tem medo destas coisas, à melheres...eu nã’ tô’ p’a viver!
A notícia chegava a todos os cantos da vila. As tabernas eram os locais onde mais se discutiu tal caso.
Certo dia, entrou numa delas um homem bem constituído fisicamente. A sua altura era superior a qualquer um dos presentes que o olhavam com um certo ar de espanto.
Não sendo uma pessoa conhecida, todos pensavam estar naquele homem a solução para todo o mistério.
“Um homem estranho e desconhecido, tudo podia acontecer”, era a ideia de alguns.
No balcão, o visitante, depois de pedir uma bebida, perguntou ao taberneiro:
Visitante – O senhor sabe-me informar quem me possa vender carapau seco.
- O desconhecido a fim de colher a melhor informação, o taberneiro dirigiu a pergunta aos seus clientes, à qual ninguém respondeu. Durante alguns momentos pairou o silêncio.
Taberneiro – O senhor dirige-se à praia, no estendal, e lá será informado pelas peixeiras.
Pouco depois, o desconhecido saía da taberna, agradecendo a informação dada pelo taberneiro.
Cliente I – Nã’ sê’ porquê, nã’ ‘tô a gostar nada deste homem que vai aí.
P’a qui é qu’ele quer o pê’xe seco? A mim che’ra-me a pê’xe fresco!
Cliente II – Cá p’ra mim este homem é o lobisomem. Ele deve andar p’rá’i a sondar o qui é que pode despois atacar!
O velho Artur, o único que afirmava ter visto um vulto durante a noite, estava presente e também exprimiu a sua opinião:
Artur – O vulto qu’eu vi nã’ me pareceu tão alto mas mais largo era de certeza!
Este homem que vai aí nã’ deve ter nada com isse.
O Alberto Paixão levantou-se do seu lugar habitual.
Alberto – A gente tem de fazer ólguma coisa sobre este mestére!
Devíamos juntar mê’a dúzia de homens e fazer ‘ma esprê’tadela na próxima lua.
Todos concordaram com a ideia e, depois de tudo combinado, o assunto ficou em segredo.
Quinze dias depois, ninguém abriu a boca. Na cabana das redes do vizinho do Alberto Peixão, a armadilha foi novamente planeada, desta vez até ao mais pequeno permenor.
Numa linda manhã, enquanto arrumava a casa, a Augusta, filha do Alberto, cantava com muita alegria.
Entretanto, um jovem passava na rua e, espreitou pela janela da porta da casa da Augusta. Tendo reparado em tal gesto a Mariana dirigiu-se à sua filha:
Mariana – À filha o Jô’quim Traquina, passou agora por aqui a espreitar muito p’a dentro de casa…Andará ele interessado em alguma coisa desta casa?
Augusta – Oiça cá mãe, você ta’bém anda sempre desconfiada com tudo! O olhar do rapaz, a mim nã’ me diz nada, ‘tá ó’vir!
Fim do 2º Episódio.
J.B.
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