- No dia seguinte o tempo dava quebra na sua fúria. Restava aguardar o resultado nas próximas horas. No final de mais uma oração,o Francisco falou um pouco com as mulheres.
– Não deixem de rezar, isso é sinal de fraqueza o que os outros fazem não interessa. Acredito que Deus vos há-de ajudar um dia. Amanhã vocês vão à minha horta, para trazerem alguma coisa para comer três ó quatro refeições.
-Júlia, mais uma vez agradeceu beijando o Francisco no rosto. Pouco depois as duas amigas despediram-se do benfeitor, e voltaram para casa. pelo caminho, a amiga da Júlia disse:
- Ouve cá Júlia, tu tens tanta confiança assim pa’ beijares o sacristão na cara!
-Júlia ficou surpreendida com a pergunta da sua amiga.
- Ouve cá,Rosa, queres tu dezer com essa conversa?
- Rosa logo se arrependeu, de ter dito tais palavras.
- À melher nã’ t’ofendas. Eu nã’ disse iste com má intenção! Olha desculpa se t’ofendi!
– Nã’gosto nada dessas conversas… Sabes bem qu’o nosso povo é, duma cavaca faz logo um remo.
- O pequeno desentendimento entre as duas amigas, acabou sem grandes problemas até chegarem a casa.
Na manhã seguinte, voltava a vida no areal. O mar calmo, quase sem ondas, convidava os pescadores voltar à sua faina habitual. As primeiras empresas que trabalharam, deram sinal de peixe. Até ao fim do dia, o movimento na lota era constante. Peixe entrar na lota e a sair para os mercados.
- Nos dias seguintes, o peixe nas redes não falhou, todos os pescadores viam o seu esforço recompensado. No domingo seguinte na celebração da missa, enquanto o Pároco fazia a homilia, regozijava-se com a abundância de peixe nas redes dos pescadores. Há saída da missa Júlia encontrou o Francisco.
- À senhor sacristão, bendito seja o poder de Deus, abençoada a hora que fizemos as orações pa’ pedir a Nosse Senhor que nos desse pê’xe às nossas redes!
- É verdade, Deus nunca nos falta, nós é que falhamos constantemente, e às vezes nem merecíamos tanto!
Olha, já que ‘tás aqui queria-te dizer, amanhã sem falta vai à ‘nha horta. Tenho lá umas coisas para te dar antes que s’estraguem.
- No dia seguinte, Francisco adiantava o seu trabalho na horta. Pouco depois Júlia chega ao local combinado
- Bom dia Júlia. Olha pega naquele saco e leva para ti, sempre dá para algumas refeições!
- À senhor sacristão nã’ sei como lhe hei-de pagar tudo iste!
- Não me chames sacristão, aqui sou Francisco. Já agora queria-te dizer uma coisa, espero que não te ofendas com a minha pergunta!
– Diga lá a’tão a novidade!
- Olha, tenho andado a pensar nisto já algum tempo. Se eu te pedisse para seres minha companheira, tu aceitavas? Estou a precisar d’alguém para me ajudar sabes!
(Júlia surpreendida) - À senhor Francisco eu nã’ esperava agora um pedido desses... sou viúva há pouco mais de dois anos!
- Com todo o respeite que eu tenho pelo seu falecido, agora acabei por gostar de si; e também fazia-me um grande jeito, no arranjo da casa, na cozinha e outras coisas, compreendes!
- Júlia, escutava o Francisco com uma certa ternura e ao mesmo tempo compreendia a sua intenção mas, ela acrescentou:- Eu compreendo a sua luta, mas sabe as pessoas vão logue falar de mim! Mesmo assim, eu vou pensar, dê-me uns dias pa’ eu resolver.
Fim do 17º e penúltimo episódio.
J.B.
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