quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Censura

2º Episódio – A Censura

- O Alberto continuou - Um dia destes ‘tive a falar com a filha do mestre Fernando, sentia-se muito triste. Ela gosta muito do rapaz. Sabe o qu’ela me disse… O pai dela nã’ quer qu’ela namore enquanto não fizer 20 anos. Veja lá, iste ‘té pode prejudicar o futuro da rapariga!

- Ouve cá João, é melhor nã’ te meteres nisse, nã’ faças nenhuma cegada porque pode trazer-te alguns má’ dissabores.

Olha, que o mestre Fernando tem muitos conhecimentos na terra, e pode-te estragar a festa, tem cuidade!

A Ti’ Rosa, mãe do Alberto, adormecera no início do serão mas acordou no momento em que o seu marido aconselhava o filho.

- Na’ te metas nisse!... Conversa é essa João, aconteceu ólguma coisa?

O João tentou desviar a conversa para que ela não tomasse conhecimento do caso, mas o Alberto não guardou segredo.

- Quer ó’vir mãe, eu vou fazer uma cegada ó mestre Fernando. Sabe porquê? Ele nã’ quis marticular o Venâncio porque lhe disseram que ele namora com a filhe, a Maria.

- À filhe, tu nã’ vais fazer uma coisa dessas, tem juízo contigo. Ele é homem p’a te fazer um terramoto onde te encontrar. É ‘ma vergonha!

Alberto, depois de ouvir o conselho de sua mãe, não recuou da sua decisão.

- Olhe mãe, eu vou p’rá frente c’a cegada, nã’ vou ofender ninguém, só vou apresentar a verdade.

A mãe agora ‘tá a dê’xar-me preocupado, porque o Carnaval é tempo d’alegria e não de tristeza. Deixe lá, qu’eu canto em fadinho bonito, a esta triste história do Mestre Fernando.

- A Ti’ Rosa, encolheu os ombros e acomodou-se na sua cama.

No dia seguinte, os barcos saíram para a pesca. O Alberto, também tinha sido avisado para se juntar à companha para preparar a embarcação e sair para a faina da pesca.

Ao fim da tarde os barcos regressaram à praia com boas pescarias. O Alberto e o Júlio, seu amigo e companheiro, iam conversando enquanto transportavam o peixe para a lota.

O Júlio, quando teve conhecimento da decisão de Alberto sobre a cegada, disse-lhe:

- Mas ouve cá Alberto, tu nã’ achas muito arriscado fazeres ‘ma cegada ‘ó ganancioso do mestre Fernando?

Seguidamente, o Alberto alertou o seu companheiro:

- Fala baixo Júlio, vem aí o ganancioso. Se falasses alto ele pode’ó’vir a conversa.

Olha qu’eu nã’ quero, por enquanto, que ninguém saiba disto, óvites?

S’és mê’ amigo guarda segredo.

Olha, já agora ficas convidado para partecipar, cantas bem e eu preciso de ti p’a fazeres de mulher.

O Júlio não queria aceitar o convite mas, como gostava destas brincadeiras, decidiu colaborar com o Alberto.

Uma semana depois, o Alberto já tinha a cegada redigida. Depois de conseguir mais dois colaboradores, marcou o primeiro ensaio.

A Ti’ Rosa, andava um pouco triste, ela previa alguma coisa mais desagradável. Por essa razão, continuava a insistir com o filho para acabar com a cegada, mas o seu desejo foi-lhe sempre negado.

No sótão de um velho armazém, onde se guardavam os apetrechos de pesca, o Alberto e os seus companheiros, lá iam orientando os ensaios com grande entusiasmo.

Duas semanas depois. Certa madrugada, alguém passava junto do velho armazém. Na porta principal saía muito fumo e as labaredas já saíam pelas gretas da velha porta.

Uma peixeira que regressava a casa, assustou-se e gritou pelos vizinhos, dando assim conhecimento do perigo que todos os moradores corriam ali perto.

Peixeira - É gente, acordem... tragam áuga, há fogo no armazém das redes do Senhor Lopes.

Fim do 2º Episódio

Sem comentários:

Enviar um comentário