domingo, 14 de agosto de 2011

A Censura

Nazaré, início do ano de 1950. Os barcos repousavam na praia, como que à espera das ordens dos mestres, para regressar ao mar.

Por sua vez, os pescadores formavam pequenos grupos em diálogo. Olhavam o mar com alguma desconfiança, já que o vento e o mar tinham-se aliado, a fim de não criar boas condições para a faina da pesca. Pouco a pouco, os grupos de pescadores foram-se dividindo e o mestre mais corajoso, considerando que não havia condições para pescar, ordenou à sua companha que todos tinham o dia livre.

Por sua vez,os outros mestres seguiram o mesmo exemplo. Os jovens aproveitavam o dia de outra maneira,quando não iam à pesca, ficavam contentes e passavam o tempo com alguns jogos habituais, para entreter o tempo. O Alberto, era um jovem pescador muito popular. Para além de ser um trabalhador exemplar, tinha outras boas qualidades. Nas atividades mais importantes  da vila fosse religiosa ou não, ele estava sempre presente. Na quadra do Entrudo ele também participava nas tradicionais cegadas, exibições que eram sempre apreciadas, pela grande parte da  população.

Certo dia, durante o serão, o Alberto dialogava com o seu pai, sobre um caso que acontecera já há alguns dias atrás, e que se espalhara por toda a vila.

– Vossemecê, mê’ pai, acha bem a atitude do mestre Fernando fez ao Venâncio? Olhe qu’ele, teve a coragem não matricular o rapaz na empresa dele... Ele é vingativo, mas eu sei porque ele fez isse!

- O João, pai do Alberto, já conhecedor da situação, adiantou:

- Filho, é melhor te calares com essa conversa… Isse’ é lá com eles! Sabes filho, o mestre é quem manda, e ele faz o que lhe apetece. Mas, também te digo, se é o que dizem eu não ache bem; e tenho muita pena do rapaz, é educado e muito trabalhador.

- E vossemecê não sabe da missa a metade!  O mestre Fernando não matriculou o rapaz porque foi ’ós ó’vidos dele que a sua filha namorava com o rapaz…‘Tá ó’vir pai, a classe pobre, mais uma vez, é rejeitada por causa da ganância dos ricos; até parece que têm vergonha que um pobre case com uma rapariga rica!  Estas coisas, dão-me cá ‘ma revolta cá por dentro que não queira saber!

- O João, escutava o seu filho Alberto com muita atenção. No diálogo havia alguma verdade. Entretanto ele acrescentou:

- Eu ‘tou a gostar de tó’vir, t’ans razão no que dizes, a atitude do mestre Fernando, não foi das melhores… eu até acho que ele é ganancioso! Mas a filha é dele, na’podemos fazer nada! 

- Alberto (concordando) - Sabe ‘ma coisa pai, se este caso fosse comigo, eu levava a minha avante, custasse o que custasse. Eu tinha que casar com a filha dele! Olhe, ‘tou cá a pensar ‘ma coisa... quem vai fazer ‘ma cegada a este caso sou eu. O Entrude ‘tá aí à porta e o mestre Fernando há-de levar com ‘mas piadas nas ventas, vai ver!

- Olha filhe, vê lá onde te vai meter… Eu na’goste nada dessas coisas!

Fim do 1º Episódio da história –A Censura -

J.B.

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