terça-feira, 27 de dezembro de 2016

22º Episódio - Nazaré. Velhos Lobos do Mar


22º Episódio – Nazaré. Velhos Lobos do Mar.

(António deu um exemplo à esposa para dizer à sua irmã)
- Dizes assim: - Na te disse já co’ mê’Tonhe me tirou o poder… E sabes ‘ma coisa, o mê homem na’é pai do tê’homem!
- À melheres…. Ela é esperta mas vê’ bater à porta errada… Até me disse há uns tempes que tu, na’ sabias arrecadar o denher, e o homem dela sabia.
- Ela na’sabe ta’mãe, ca’ti te dói o pête e as costas e o homem dela deitade em casa sem se ralar ca’vida!
-  É mesme assim que le dizes e mais nada. A gente temes que ganhar juíze, já na’temes vinte anes, calquer dia eu quere e na’posse… E á depois!
O nosse filhe ‘inda na’tá acabade; e eu também quere casa - le  quêle marece tante co’mós outres… Mas na’ é a dar pão a malandres, que se ajunta olgum denher… E depois a velhice?
Ninguém tem inveja das amarguras qu’eu passe. Deus é que me tem pran’táde a Sua Mão Divina no mê corpe!
( António tirou o barrete e benzeu-se)
- Olha Tonhe, gostei agora desse tê’ geste!... Nós devemes ter tude co’Senhor.
Eu  Na’me quere lembrar da noite da trevoada, apanhei um grande cagaçe sozinha!
- Sabes Maria, quante mais chuva cair no rio, melhor é pa’panhar as inguias… Mas já passou o pior, agora se Deus quiser ‘inda há-de vir mais!
( No dia seguinte, o mau tempo continuava um pouco mais brando. O mar tinha baixado a ondulação. Os mestres mais arrojados dialogavam com os seus camaradas, sobre as condições da maré. As opiniões para lançar as redes eram discordantes e os pescadores mais experientes, teimavam não arriscar entrar no mar, ainda oferecia perigo.)
- O mestre João da empresa  Arte Xávega onde o António estava matriculado, não concordava com o mestre Miguel, colegas da mesma arte.
João disse: -
Olha Miguel cá p’ra mim, o mar na’tá capaz, e eu na‘tou pá’riscar a vida da nha’companha… Eu desiste, e amanhã logue se vê!
(Miguel respondeu com valentia)
- Vocês parece que ganharam mede do mar, onde ‘tá a valentia do pescador!... Tanta fome ‘tásse aí a passar em tantas famíl’as, isse já na’se lembrem vocês pois não!
-  João respondeu – À ti’Miguel cá p´ra mim já disse, na’arrisque… Podes ir à vontade homem, se quiseres eu até te ajude a varar o barque ó mar.
- E vôm mesme à João… O mar nunca ma meteu mede… É rapaziada aparelhemes o barque e vames fazer o lance!


Fim do Episódio.
M. Francelina e J. Balau.

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