22º Episódio
– Nazaré. Velhos Lobos do Mar.
(António deu um exemplo à esposa para
dizer à sua irmã)
- Dizes
assim: - Na te disse já co’ mê’Tonhe me tirou o poder… E sabes ‘ma coisa, o mê
homem na’é pai do tê’homem!
- À melheres….
Ela é esperta mas vê’ bater à porta errada… Até me disse há uns tempes que tu, na’
sabias arrecadar o denher, e o homem dela sabia.
- Ela na’sabe
ta’mãe, ca’ti te dói o pête e as costas e o homem dela deitade em casa sem se
ralar ca’vida!
- É mesme assim que le dizes e mais nada. A
gente temes que ganhar juíze, já na’temes vinte anes, calquer dia eu quere e na’posse…
E á depois!
O nosse filhe ‘inda na’tá acabade; e eu também quere casa - le quêle marece tante co’mós outres… Mas na’ é a dar pão a malandres, que se ajunta olgum denher… E depois a velhice?
Ninguém tem inveja das amarguras qu’eu passe. Deus é que me tem pran’táde a Sua Mão Divina no mê corpe!
( António tirou o barrete e benzeu-se)
O nosse filhe ‘inda na’tá acabade; e eu também quere casa - le quêle marece tante co’mós outres… Mas na’ é a dar pão a malandres, que se ajunta olgum denher… E depois a velhice?
Ninguém tem inveja das amarguras qu’eu passe. Deus é que me tem pran’táde a Sua Mão Divina no mê corpe!
( António tirou o barrete e benzeu-se)
- Olha Tonhe,
gostei agora desse tê’ geste!... Nós devemes ter tude co’Senhor.
Eu Na’me quere lembrar da noite da trevoada, apanhei um grande cagaçe sozinha!
Eu Na’me quere lembrar da noite da trevoada, apanhei um grande cagaçe sozinha!
- Sabes
Maria, quante mais chuva cair no rio, melhor é pa’panhar as inguias… Mas já
passou o pior, agora se Deus quiser ‘inda há-de vir mais!
( No dia seguinte, o mau tempo
continuava um pouco mais brando. O mar tinha baixado a ondulação. Os mestres
mais arrojados dialogavam com os seus camaradas, sobre as condições da maré. As
opiniões para lançar as redes eram discordantes e os pescadores mais
experientes, teimavam não arriscar entrar no mar, ainda oferecia perigo.)
- O mestre João da empresa Arte Xávega onde o António estava matriculado,
não concordava com o mestre Miguel, colegas da mesma arte.
João disse: - Olha Miguel cá p’ra mim, o mar na’tá capaz, e eu na‘tou pá’riscar a vida da nha’companha… Eu desiste, e amanhã logue se vê!
João disse: - Olha Miguel cá p’ra mim, o mar na’tá capaz, e eu na‘tou pá’riscar a vida da nha’companha… Eu desiste, e amanhã logue se vê!
(Miguel respondeu com valentia)
- Vocês parece que ganharam mede do mar, onde ‘tá a valentia do pescador!... Tanta fome ‘tásse aí a passar em tantas famíl’as, isse já na’se lembrem vocês pois não!
- Vocês parece que ganharam mede do mar, onde ‘tá a valentia do pescador!... Tanta fome ‘tásse aí a passar em tantas famíl’as, isse já na’se lembrem vocês pois não!
- João respondeu
– À ti’Miguel cá p´ra mim já disse, na’arrisque… Podes ir à vontade homem, se quiseres
eu até te ajude a varar o barque ó mar.
- E vôm
mesme à João… O mar nunca ma meteu mede… É rapaziada aparelhemes o barque e
vames fazer o lance!
Fim do
Episódio.
M. Francelina e J. Balau.
M. Francelina e J. Balau.
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