28º Episódio. O Filho do
Pescador.
Ana – É a Carolina dos beçes grosses, mora ali
ó pé da fonte! Olha, ela costuma ir vender peixe comigue ó mesme casal… Um dia
destes pelo caminhe ela vai assim p’ra mim… Quande se casa a tu’filha Ana? E eu
respondi, eu sei lá a‘nha filha ‘inda é muite nova, nem tem ainda o enxoval
tode; sabes o qu’ela me disse!
Rosa – Eu sei lá mãe, mas já
estou a pensar que não deve ser coisa boa!
Ana – Olha filha, por umas
coisas tiram-se outras! Vai ela assim com sorriso de sacaninha :- Olha à Ana,
iste que fique entre amar’duas, mas quem gosta muite da tu’filha é o mê filhe,
eles até se dão muite bem!
Rosa – Espere lá, disse que a
gente nos damos muite bem… Olha cá p’ra mim isse é uma grande mentira… Até me
parece que eu nunca falei com o filho dela… vossemecê só anda metida com gente
de coscuvilhices, afaste-se mas é da má vizinhança!... Sabe o que eu lhe digo, você
já arranjou lenha pa’se queimar!
Ana – Tem calma filha, mas de
q’oquer manê’ra ela vai levar o recade, na’perde pa’demora!
Rosa – Eu estou mesmo a ver,
que estes inchentes nunca mais vão acabar!
(Entretanto o Manuel dirigiu-se a casa também bastante
aborrecido, o seu pai estava presente)
Augusto – O que é isse Manel,
tu na’vans bem rapaz, essa cara diz-me olguma coisa de mal!
Manuel – Tem razão pai, uma
pessoa quando pensa que está bem na vida, há sempre alguém que nos apoquenta!
Augusto – Mas o que foi c’aconteceu
agora!
Manuel – O pai nem vai
acreditar, isto para mim é bastante aborrecido, mas o caso vai ser esclarecido.
( O Manuel disse ao Augusto, o falso testemunho que
lhe tinham levantado, ficando este um pouco revoltado)
Augusto – Sempre há gente
neste munde, que só serve para prejudicar a vida de quem trabalha!
(Entretanto chegou o mês de Abril. No estendal a
Carolina tratava do seu peixe para secar. A Ana também acabava de chegar com
uma dorna (vasilha de madeira) de peixe fresco para escalar e secar.)
Carolina – Bom dia Ana, tabém
compraste peixe pa’secar?
Ana – (com mau modo) Comprei, há olgum problema nisse!
Carolina – Q’rede que modes
são esses… Á melheres parece que viste o diade!
Ana – Olha se’calhar até vi,
a gente pensa c’as pessoas são ma’coisa, e afinal são outras, na’se pode hoje
em dia confiar em ninguém!
Carolina – Mas essa piada é
p’ra mim, ou v’ans picada d’algum lade!
Ana – Olha picados são os
bois, na’goste nada de pessoas fingidas e enliadeiras!
Carolina – Olha à Ana, é
melhor te es’plicares bem com essas bocas, qu’eu já nem ‘tou a ver bem o peixe,
com o norvoso que já tou dos pés à cabeça!
Fim do 28º Episódio
J. Balau.
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