quinta-feira, 12 de junho de 2014

1ª Cena - Recordar o passado

Peça de teatro - Recordar o Passado.

Recordar é Viver - Aos amigos em especial a todos os que participaram nesta peça teatral em - 2 Atos.

Nazaré, Recordar o Passado
Abre a cena com a Ti’Ana (taberneira) limpando o balcão. Mostra o rosto cansado da vida diária.
Ti’Ana – Não era bem isto que eu queria, mas a vida de peixeira eu adorava… Correr vales e montes c’as canastras á cabeça, eu até crescia e sentia-me bem. Apregoava a cantar e lá vinham as minhas freguesas comprar-me o peixe de corrida.
No regresso o costal vinha sempre cheio: -batatas, feijão e outras coisas.
Não enriqueci mas nunca passei fome mais o mê’Jôquim.
Coitade, lembro-me tantas vezes dele; tantas voltas de mar qu’ele enfrentou!
Ai ai máguas fundas!
(faz uma pausa e limpa as lágrimas com a ponta do lenço da cabeça)
Ainda bem que os meus avós me deixaram este ganha pão… Seja o Deus quiser! Eles sempre gostaram desta taberna!

Ti’Ana canta “ Já é dia vou à vida”
1
Quando chega a madrugada
A luz entra na janela
ainda um pouco ensonada
Fico olhando para ela
Já é dia vou à vida
A taberna me espera
oiço vozes de outra lida
E o mar, também já berra.
2
Uma praia muito ardor
muita gente embaraçada
a mulher com muito amor
Leva a filha escarranchada.
3
Pescador chegou do mar
Inda hoje não foi à cama
Mas antes vem visitar
A taberna da Ti’Ana.
4
Eles são a minha vida
E me dão muito calor
Mas aquilo que eu mais queria
O mar levou meu amor.


5
Vivi só numa casinha
O freguês por companhia
Foi a vontade de Deus Bis
Assim passo o dia a dia.

(Depois do canto, Ti’Ana regressa ao balcão enquanto o Vitorino, arrais da barca “Salva Vidas”entra na Taberna)
Vitorino – Bom dia Ti’Ana… Mas que alegria aí vai hoje!
Ti’Ana – Bom dia. Olha na’sei o que me deu hoje… Um desabafe é o que é!
Vitorino – Quem canta seu mal espanta… Eu sempre goste d’óvi-la a cantar.Faz-me lembrar outres tempes: - Os serões qu’a gente fazia na sua taberna! O sê’falecide ta’bém cantava muite bem!
Ti’Ana – É verdade, falas bem, eu adorava óvi-le… Deus o t’anha no descase eterne!
Vitorino – È verdade, grande voz quele tinha… Ta’bém foi um grande lutador, era um homem sem mede!Olhe á Ti’Ana encha aí um copinhe de vinhe branque.
Ti’Ana – Na’vames agora falar de coisas tristes. Mas voltando à coversa… O mestre Vitorino na’ se ponha de fora que ta’bém canta o fado muite bem… Até gostava que cantasse o fado “ Mulher da Nazaré” Aquela aque no dia int’êre na’descansava desde o nascer ao pôr do sol.
Vitorino – À Ti’Ana nem pense nisse. Eu já na’cante há mais d’um ane!
Ti’Ana – Quem sabe cantar nunca esquece… Olhe se na’cantar fique triste!
Vitorino – Ora você!...Prontes tabém… Se me enganar você vai-me desculpar!
Ti’Ana – Vá lá, isse p´ra si é mais fácil que governar o Salva Vidas!
Fado – Mulher da Nazaré
1
Longe vinha a madrugada
passo largo isolada,
Alguém seguia a rezar.
Ia a caminho do rio
atravessando o ar frio
para o local alcançar.
2
Ligeira a Ti’Maria
roupa na pedra batia
muito tinha que fazer.
Subia o sol na colina
na encosta mais acima
lá estava ela a estender.

3
O café caía na tigela
uns golos passavam à goela
com um pedaço de pão.
‘Inda o colo estava molhado
Do trabalho tão forçado
dava dor no coração.
4
Chega a hora da partida
passo cansado da vida
regressa a casa enfim!
Sem pensar em descansar
ia à praia perguntar
se encalhara o Ti’Jôquim.
5
Pouco a pouco baixava o sol
luz acesa no farol
Ti’Jôquim estava a chegar.
Ti’Maria fatigada
como fez na magrugada
continuou a rezar.

Ti’Ana – Á fadista… assim merece a pena perder tempe, p’óvir um bonito fado! E na s’enganou!
Vitorino – Prontes ‘tá contente?
Ti’Ana - Muite contente. Obrigada Vitorino.
Vitorino – Iste foi ma’vez sem exemple. Olhe, desculpe lá mas tanhe quir agora à capetania. Até logue.

Sem comentários:

Enviar um comentário