quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Vidas Negras (Episódio 1)

Vidas Negras (1º Episódio)

Nazaré 1984. - Depois da inauguração do porto de abrigo da Nazaré, o povo entusiasmado com a grande obra desejada já há muitos anos, dialogava entre alguns grupos, na expetativa de melhorar a vida do pescador. Mas, entre tanta alegria havia alguém que murmurava a tão grande satisfação dos habitantes. Sem dar muito nas vistas, Maria,(peixeira viúva sexagenária)já cansada da vida, tinha perdido o seu marido, num acidente no mar, perto da costa da Nazaré. Por isso, ela sentia-se desgostosa chorando diariamente a sua grande perda do seu grande amor. Sem se conformar e ao ver tanta alegria nas suas colegas e vizinhas, pela chegada do abrigo já há muito desejado era mais um desgosto que ela sentia, para juntar à sua infelicidade. A única alegria que ainda lhe restava, vinha do seu único filho, que tinha emigrado para a América. De vez em quando, ele enviava-lhe algum dinheiro para ela juntar à sua pequena reforma. Mas, como a vida por vezes nos traz algumas surpresas e podem acontecer de um momento para outro; certo dia no final de Março, Maria sentada na sombra de uma embarcação que ainda restava no areal, ela continuava a murmurar. - Vejam lá vocês... Há gente que nasce com tanta sorte e outros sem sorte n'inhuma.Coitado do mê'rique homem!... O mê jôquim que me estimava tante para ficar sem ele sem ver a inauguração do porto. Ai ai a nha vida... tanhe tantas sódades do mê'tempe... e a alegria qu'eu tinha... às vezes até cantava um fadozinho, o mê Jôquim gostava tante de m'óvir; mas agora acabou-se tude... Mas dig'ue a verdade, ainda gostava d'óvir alguém que o cantasse o -Fado Meu -. Fado Meu Cantar o meu fado verdadeiro Ai tristeza ou amor no coração. O mar esse selvagem ou fagueiro Por vezes faz entoar uma canção. Para mim foi um traidor e me cobriu De negro faz-me chorar Foi um fosso que se abriu Meu amor jamais se viu Choro eu mas canta o mar. É o meu fado Que guardei, mas na tristeza nesta vida vem a solidão, é por isso que eu canto. É fado meu Que levarei até aos céus, o infinito. Cheio de amor, e cantarei só para Deus.

José Balau

Sem comentários:

Enviar um comentário