20º Episodio
- O Virgulino deixou de ter crédito na taberna da Ti’Ana. A sua dívida já ia avançada, e a taberneira deixou de ter confiança nele. Um pouco antes, o Virgulino tinha discutido com o seu mestre por discordar, que o mar não tinha condições para poder trabalhar; por essa razão ele estava um pouco desorientado.
- Oiça cá Ti’Ana, você tabém queria qu’eu fosse ò mar, arriscar a ‘nha vida c’uma rabiosa que taí; vá à bord’água que já vê o mar!
- À homem, estás a falar duma maneira mas, eu não sei de nada… Se é como falas tens rezão, nem tu nem ninguém essa agora! Mas, muitas as vezes tu andas aí como se não precisasses, estendido na areia, à sombra de um barco a dormir; enquanto os teus colegas não param de manhã à noite; e às vezes até chegar a noite! Nisso é que tu devias reparar!
- Pois andan, mas nesses dias é quande eu estou adoentade das costas, precise apanhar Sol!
- Apanhar sol, às vezes com o sol encoberto Não é Virgulino!
- À Ti’Ana, deixe lá agora essas coisas… Encha lá os copinhos eu pague as bebidas… Hoje o Virguline sem saber, deu uma lição ao seu mestre; Ele tabém, tem que ser mais humane… Na’ se arrisca assim avida das pessoas, o mar metia mede à Ti’Ana!
( Entretanto entra na Taberna bstante aborrecida a esposa do Virgulino )
- À cara de catane, já vanhe da bordágua à tua procura cheia de fezes, e tu já tás aqui enfiade na taberna, na goldice da bebida! Mas o que pensas tu da nossa vida homem!
- O que pense da nossa vida!... Aqui ´tá outra… Talvez quisesses tabém, qu’eu fosse pó mar ca’rabiosa caí tá!! Já tive a des’quetir co’mestre e recusei-me a entrar no barque, é verdade!
Olha taí o Ti’Afonse, ele te conte, se tive ó não rezão! Olha, que tás a ver-me co’cope na mão mas quem pagou, foi esse amigo que tá na tua frente!
- ‘Tá tude bem, podes ter rezão numas coisas mas noutras não!
Vá vames imora, vames imora p’ra casa olha caté tans as chirolhas todas molhadas!
- Mas o que é que tu queres, na’ vieste aqui fazer nada, podes ir po’mesme caminhe!
- Mas que modes são esses, qués - me dar perrada… Era só o que me faltava!
( entretanto o Virgulino lá resolveu acompanhar a sua esposa, (Elvira )
- À Elvira, eu na’ vanhe p’ra casa pa’me altarares mais de qu’eu tom, bem basta as chatices qu’eu já tive co’mê mestre… Ele teve a coragem de pôr o barque p’ra baixe, ca’companha toda e entrou no mar… Segundo me desserem, ele teve qu’encalhar com ajuda dos outros pescadores! Já dizem p’raí, que tiverem sorte do mar na’os ingulir!
- Pois foi, mas tu na’estavas lá… Os outros nunca se neguem mas tu, negas-te na frente de toda gente!... Se t’ans mede do mar arranja trabalhe em terra… Eu ‘tou cansada de trabalhar, assim na´posse viver… Na’há quem óguente; já na’tanhe ninguém que me possa ajudar… O mê quenhade, já tirou o poder à nha irmã, ela agora anda ca’alzebeira bazia por c’ósa de mim!
Os companheiros da empresa onde tu andas já na querem ganhar p’ra ti, eles dizem c’andas a fazer manha… Olha eu, fui criada com muita vergonha e tu na’tans nenhuma!!
Mas o que tás p’raí a dezer!
- Eu disse e volte a dezer, tu na t’ans vergonha ninhuma!
- O Virgulino enervou-se e de repente, bateu na sua mulher sem piedade. Pôs-lhe o corpo todo negro. Virgínia pouco depois não se podia levantar, ficou no chão a soluçar feita num esfregão. Virgulino ao ver a sua mulher de rastos ignorou o que tinha feito e saiu de casa. Entretanto o Zé seu filho, quando encontrou a sua mãe em casa em dificuldade tentou levantá-la mas, não conseguiu; foi então procurar o seu pai.
Fim do 20º Episódio
J. Balau.
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