O trapeiro
Nazaré 1940.
O badalo do sino da torre da Igreja do Sítio, acabava de bater o nona badalada, numa
manhã bastante fria do mês de Janeiro.
O ranger de uma porta já antiga, fez-se ouvir quando o Augusto, o (trapeiro) depois de
se benzer, saiu de casa como era seu hábito, desde há muitos anos.
A sua antiga e pequena habitação, herdada de seus pais, estava situada a duas centenas
de metros, a norte da Igreja de Nossa Senhora da Nazaré. Desde criança, que o homem
vivia no mesmo local; era muito respeitado e respeitador, embora ainda solteiro, não
dizia mal da sua vida.
O Augusto, nunca tinha conhecido outra arte, viveu sempre no negócio das velharias,
comprava e vendia conforme as oportunidades, que lhe iam surgindo. Esta arte, tinha
pouca concorrência na vila.
Depois de percorrer, algumas ruas no Sítio já habituais, sem fazer algum negócio, o
trapeiro desceu a ladeira, até à parte baixa da Nazaré.
Ao chegar às primeiras habitações, fez-se ouvir o seu habitual pregão:-
- Há por aí trapos velhos, ou pelos de coelho, queiram vender!
- Pouco depois, foi alertado com gritos pedido de socorro, vindos de uma janela de
um primeiro andar.
- A mulher, continuava a pedir socorro, chamem os bombeiros, tenho a casa arder!
A mulher desesperada continuava a pedir socorro se cessar.
- O Augusto, ficou preocupado com aflição da mulher, e perguntou-lhe o que passava na casa.
- À criatura, acuda-me por favor, tenho o meu quarto arder!
- O Augusto abriu a porta, forçando-a com um pontapé e verificou que em todas as
divisões, havia muito fumo. Depois de abrir as janelas pediu ajuda aos vizinhos, para
chamar os bombeiros. O Augusto com muita dificuldade, conseguiu encontrar água
para tentar minimizar o incêndio.
Pouco depois, chegaram os bombeiros que em pouco tempo, conseguiram dominar o
incêndio, sendo a sua causa uma vela acesa. A vítima, ainda debruçada na janela
sufocada com o fumo, saiu de casa com a ajuda dos bombeiros para a reanimar.
Uma hora depois, estava tudo normal, alguns populares ajudaram a vítima na limpeza
da casa.
Dona Constância era o nome da sinistrada, proprietária de três habitações de grande valor.
Constância já viúva há cerca de cinco anos, não tinha descendentes, e os seus rendimentos
eram suficientes para levar uma vida tranquila.
Fim do 1º Episódio
J. Balau.
O Trapeiro 2º Episódio
Depois do acidente, D. Constância agradeceu ao Augusto (O Trapeiro) a sua preciosa ajuda
e coragem. Como se esta ação não bastasse, D. Constância, pegou em algumas peças de
roupa do seu marido e ofereceu-lhe. O Augusto, um pouco surpreendido aceitou; depois
de lhe agradecer a oferta afastou-se.
No final do dia, depois de percorrer parte da vila, na procura de alguém que quisesse vender
algo de velho, dirigiu-se a sua casa. Sentou-se num velho cadeirão, e descansou um pouco
pensando no seu dia de trabalho.
Por curiosidade,pegou na roupa que Constância lhe tinha oferecido, admirou-a e colocou-a
num lugar seguro. Ao pegar num casaco, descobriu um volume dentro de um bolso.
- Está aqui alguma coisa no bolso, mas o que será isto! Até me estou arrepiar todo…
Olha, um embrulho, está coberto com um papel fino. Vou desembrulhar…Ò meu Deus! Um maço de
notas aqui dentro do casaco… Vou contar. Sim, está certo 10 contos de reis! Mas porque estava
ali tanto dinheiro?! D. Constância teria guardado ou seria uma recompensa do seu
trabalho? O Augusto por mais que pensasse, não chegava a nenhuma conclusão.
Pouco depois decidiu: O melhor é entregar o dinheiro à senhora, posso às vezes ser culpado
de roubo, e ir parar à cadeia, eu vou lá a casa dela.
No dia seguinte, o Augusto fez o mesmo percurso, e mais tarde bateu à porta da D. Constância.
- Olá como está o senhor, meu salvador… então desejava alguma coisa?
- Sim senhora. Queria contar-lhe um caso muito importante.
- Faça favor de entrar, desta vez felizmente não há fogo em casa!
- Sim sim , Graças a Deus. O Augusto, depois de contar à senhora, o achado no casaco que
ela lhe tinha oferecido, disse: Muito me conta meu amigo, nem todas as pessoas faziam esta ação,
mas sente-se aí um pouco nesta cadeira… Agora estou a compreender, a presença desse dinheiro
no casaco, o caso é mesmo interessante.
Eu vou contar-lhe a história desse achado, se me prometer que não vai divulgar o conteúdo
da nossa conversa!
- Mas D. Constância, eu não venho aqui para saber os seus segredos, eu quero entregar o achado.
Mas pode ficar descansada, da minha boca não vai sair nada.
- Está bem eu vou confiar na sua palavra, mas quero já dizer que eu desconhecia a existência
desse valor!
Fim do 2º Episódio.
J. Balau.
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