6º Episódio
- Joaquim lamentava-se de seu pai ter um coração tão duro, o seu mundo era: as artes de pesca e nada mais.
A noite tinha chegado, e o João entrava em casa perguntando ao sua filha se havia novidades.-
- Boa noite. Ouve cá Joana a tu’mãe ‘inda na’veio?
- Joana olhou para o seu pai admirada da frieza de suas palavras -
- Mas oiça cá meu pai, a nossa mãe foi algum recado!… Parece impossível você não tem sentimentos
pelo acontecido… Até parece, que estamos à espera de um cão que fugiu de casa!
- Joana, vê lá como falas ao teu pai, ó’vites… Pelo teu falar, até parece que me querem culpar da tu’mãe
sair assim, nem mais nem menos!… Vocês viram alguma vez eu fazer-lhe mal? Vá, digam lá a verdade…
Se me querem culpar, digam já antes qu’iste vá a mais!
- Joana e Joaquim silenciaram um pouco o ambiente, em sinal de respeito pelo seu pai.
Pouco depois, Joana sentou-se no chão encostada ao armário da cozinha. Joaquim seguiu o seu exemplo,
acabando ambos por adormecer devido à fadiga. O João, depois de aquecer um pouco de água na cafeteira na lareira,
lavou os pés numa bacia de esmalte. No mesmo momento, ouviu-se passadas dos velhos tamancos; alguém
abria a porta, e entrava embuçada na negra capa, com voz trémula disse:- Bôa noite a todos e desculpem
esta demora!
- João na frente de sua esposa com olhar cínico disse-lhe: – Até qu’enfim Maria… Já não era sem tempo…
Mas afinal o que aconteceu!?
-Joana e Joaquim acordaram, quando o seu pai pronunciou as primeiras palavras. Joana dirigiu-se à sua mãe.
- Valha-me Deus… À querida mãe, que ideia foi essa, de você sair assim sem dizer nada à gente?
- Maria sentou-se no chão, lentamente com o rosto coberto de lágrimas.
- Vocês perdoem-me, eu ‘tive num sítio onde algumas pessoas já perderam a vida, e se estou viva
dou Graças a Nossa Senhora de Nazaré, que me tem acompanhado até chegar a casa.
- Mas ouve cá Maria, quem te fez mal para desapareceres de casa, sem dizeres uma palavra nem a mim
nem aos teus filhos!
- Se querem saber, eu sinto um grande desgosto dentro do meu coração, do meu homem ir vender uma casa à frente do mar,
para ir comprar um barco. Eu já disse, que o dinheiro pode-se arranjar de outra maneira.
- O João ouvia o desabafo de sua esposa em silêncio, sem se comover um pouco pelas palavras de sua mulher, mas no
adiantar da conversa ele interferiu.
- Mas oiçam cá, eu já na’mande naquilo que é meu! Na’tenhe satisfações a dar a ninguém, ó’viram bem!
A minha palavra na’volta atrás… No final do mês de Setembro as letras vão para a parede, quem na’quiser ver feche os olhes!
- Joana, abraçava a sua mãe, para lhe dar um pouco de conforto no momento triste, que o seu pai acabava de anunciar.
- Oiça mãe, o pai quer assim, seja feita a sua vontade, mas um dia ele vai ver que fez um grande disparate da sua vida;
eu também não posso também concordar com esta decisão, ele nem se lembra que tem dois filhos para casar…
Eu vou tornar a dizer, pai um dia você vai - se arrepender!
- Mas arrepender-me de quê … Mas eu matei alguém?
Tem cuidade Joana, já noutre dia te disse, pa’na te meteres na ‘nha vida, e tu ainda és nova para me dar lições…
O qu’eu fizer tá bem feite… E com esta vou-me deitar, amanhã tanhe muite que fazer. Olha Joana, arranja alguma coisa
pa’tu mãe comer, secalhar ainda tá em’jum, e na’ pensem mais no caso eu sei o que ‘tou a fazer. Até amanhã.
- Maria continuava a chorar rodeava dos seus filhos.
-Oiça mãe, deixe lá isso agora, por mais que chore e fale, não muda nada, o pai da maneira que fala , não vai mudar de ideias.
Você tem que comer agora alguma coisa, ainda está em jejum não está?
- À filha na’me fales em comer!… O teu pai na’tem necessidade desfazer-se da casa, há tanta gente que luta uma vida inteira,
por um abrigo para morar, e nunca consegue; e ele vai fazer uma asneira destas… Ai senhor eu queria já morrer, só para
na’ver a nossa casa nas mãos de outras gente!
- Não diga uma coisa dessas, valha-me Deus, afaste estas más ideias da nha’mãe… Mãe, você tem que comer alguma coisa,
está muito fraca, tem que se alimentar, deixe lá o teimoso do pai fazer a sua vontade.
Fim do 6º Episódio.
J. Balau.
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