Nazaré, Fevereiro 1950
1º Episódio
Nazaré, terra de pescadores, onde o mar repousa manso uns dias e outros embravece de tal maneira, que impede o pescador de trabalhar na faina da pesca.Ti’Tonho, assim era conhecido o velho pescador, com larga experiencia da vida do mar. Vivia do que o mar por vezes dava, e quando não acontecia o lucro do seu trabalho, tinha dificuldades financeiras. Vivia numa modesta casa, a única herdança de seus pais já falecidos. Nas horas de descanso, tinha por hábito debruçar-se na borda de uma embarcação, por vezes acompanhado por amigos ou companheiros, da mesma empresa. O diálogo mais frequente era falar do futuro, ou então de algumas recordações do tempo passado.
O mês de Fevereiro estava no início, os barcos alinhados na praia esperavam a decisão do pescador. O mau tempo, já alguns dias fustigava o areal, e as ondas envolvidas no vento, ficavam alterosas de tal maneira, que o pescador tinha que refugiar as pequenas embarcações, em lugares mais seguro.
O bom tempo teimava em chegar, fazendo que algumas famílias sentissem dificuldades, para se alimentar.
O Verão, não tinha compensado o esforço do pescador, e por isso a fome ia permanecendo em muitos lares.
Certo dia, o Ti’Tonho, saíu de casa e pouco depois voltou entrar, no início do dia depois de apreciar o mar, não muito simpático já alguns dias.
A sua esposa (sexagenária) preparava o café da manhã. Na habitual e pequena mesa da cozinha, estava um pedaço de pão de milho (broa) já de alguns dias, era o que restava do dia anterior. O Ti’Tonho sentou-se à mesa e perguntou: - Ouve cá Jul’a, a tu’filha ‘inda na’se levantou?- Olha ‘inda não. É muito cedo ainda, deixa ‘tar a piquena a dormir!
- A piquena dizes tu… Tu sabes quantos anos tem a tu’filha jul’a?
- Olha, já lhe perdi o conte… Bebe o café descansado, eu já pergunte a idade dela, é ainda uma criança!
- Na’perguntas nada… Na t’ans vergonha, de na’saberes a idade da tu’filha jul’a!! É obra no mar… Lá por seres ‘nalfabeta na’quer dezer que na’saibas a idade da tu’filha! Olha se tivésses 4 ó 5 filhos… Pa’nhas contas, ela faz 17anes no mês de Setembre. Olha, pa’te lembrares melhor, é um dia antes das festas de Nossa Senhora, 7 de Setembre.
- Olha que novidade me ‘tás a dar, o dia sei eu… Eu na’sou tontinha nenhuma!
- Tabém prontes, na’falemes mais nisso. Olha o café já ‘tá fri’ por c’osa da conversa! Bom, uma coisa qu’eu quero falar contigo, na’tem nada a ver com esta conversa . Desseram - me agora ali uma novidade, numa conversa com uma pessoa amiga,.
- Àh! Já trazes novidades dos teus amiguinhes!
- Pois trago, e na’tou nada satestê-te ca’conversa!
- Com rai’ é assim tão grave!...
- Talvez… Tem a ver c’a nossa filha, não achas que pode ser grave!
- Mas o que tem a nossa Maria, uma menina que ‘tá sempre em casa… Os homens, Já sabem andar a coscuvilhar a vida dos outros! Olha, se fosse coisa de melheres na’ma’demirava nada, mas vinde d’omens!… Sabes o qu’eu te digue, ‘tou a ver que os homens são piores ‘cas melheres!
(Entretanto, Maria acorda admirada com a discussão entre os seus pais, e surpreendida levantou-se rapidamente)
- Mas o que se passa aqui mãe… Quem é pior ‘cas melheres?
Fim do 1º Episódio
José Balau
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