domingo, 6 de novembro de 2011

2º Episódio – História de vidas

2º Episódio

- Òh!... À filha na’ é nada de impertança. Olha ‘távames aqui a falar da nossa vida, e da crise que temes a passar, o tempo cada vez tá pior!

O tê’pai, na’tem ide ó mar por có’sa do má tempe, e sabes que o denher tabém se acaba!

- Tem razão, mas o que ‘tavam a discutir, na deve ser por isse pois não mãe! Bem, adiante. Oiça cá, você já foi hoje à loge?

-Eu não, o denher que tanhe aqui, deve ser muito pouco.

- O que é ‘tá a precisar mais mãe?

- O que precise mais, olha é tude: pão, assúcar, café, massa, tu sabes bem na’precisas de perguntar, olha o armar’ tá bazi’!

- Tabém. É verdade, calha agora em conversa, esquecia-me de dezer a vocês, que já pedi lugar pa’trabalhar, num armazém d’um negociante de peixe; o homem deve ter uns trinta anes, e parece que vem de Peniche. Ele precisa de quatro ou cinco raparigas novas, para tratar do peixe.

- Atão ouve cá filha, e tu na dezias nada à gente… O pai e eu gostames de saber, o que fazes, mas tem cuidade tem cuidade, com essa gente de fora, tu na’conheces quem eles são!

- Eu sei o que faço mãe, ‘inda na’ vos disse nada, porque na’sei se o homem m’aceita ou não.

- A nossa filha tem rezão Tonhe. Olha, era bom que ele te convidasse, sempre era uma ajuda para o sustento da casa!

- Depois se vê. Mudande agora d’assunte… Eu tenhe guardade ‘olgum denher que andava a juntar, pa’comprar o meu enxoval, eu vou tirar o suficiente ‘pa fazer as compras de mais necessidade, para o dia a dia. Vou lá agora antes de beber o café.

- Tu fazes isse filha… Olha eu na’te dezia nada, até ‘tava com vergonha de falar nisse!

- À mãe, pa’grandes males, grandes remédes… Na se’atrapalhe qu’eu tabém não!

( Maria assim fez, saiu de casa para ir às compras. Ti’Tonho e a sua esposa, enquanto aguardavam a chegada de sua filha, continuaram o diálogo que anteriormente tinha sido interrompido por Maria)

- Eu ‘tou aqui pa’na’viver… Vê lá tu Jul’a, ‘inda bem qu’eu na’te disse nada,k da surpresa qu’eu queria te contar!

- É verdade… Afinal que surpresa é essa, que nunca mais abóia!

- Olha, vê lá se entendes. Tu óviste a nossa filha explicar, que tinha falado com um homem, pa’rranjar trabalhe na´foi!

- Sim, foi isse qu’eu óvi’ da boca dela.

- Pois é… Agora eun acredite qu’ás vezes, vai gente presa inocente!

- Olha à Tonhe, eu cada vez percebe menes desta conversa… Mas quem é que foi preso?

- Não é nada disse melher.. Na’foi ninguém prese jul’a, iste é uma maneira de falar. Foi assim, esse amigue meu, avisou-me qu’a nossa filha, teve a conversar muite tempo com um homem de fora, e alguém desconfiou que podia ser namoro, percebes agora!

- Pois percebe, e agora pa’conversa da nossa filha, ficaste a saber que isse de namore pode ser mentira!

- È isse mesme‘tás a ver… Agora íames caír num grande erre, s’agente perguntássemos ólguma coisa à Maria.

Olha aí vem ela, na digas nada óviste!

- Já vens aí filha, foste depressa… que é isse na’vans com bôa cara!

- Olhe, fui depressa, e eu nunca devia ir agora à loge!

- Atão porquê filha, pegou alguém contigo… A mãe já tá ficar enorvezada!

- À mãe, foi a atrevida da nossa vizinha, a Rosa, (môca), que me perguntou quem era aquele rapaz, qu’eu tive à dias a namorar lá ó sul! Olhe, na levou co’ceste pa’cara qu’ela é mais velha ca’mim, fiquei cheia de nerves!

Mas o que tem esta gente, a ver ca’vida dos outres, na me dizem?!

- Deixa lá filha, talvez ela ouvisse mal a conversa, sabes qu’ela é mouca!

- É mouca… Ela´sabe mais cá’cuca velha! Mas eu, disse-lhe aquile que ma’peteceu em voz alta, e se na fosse o senhor Alberte da loge acalmar as coisas, olhe na´sei o q’eu lhe fazia… Mas esta mania qu’ela tem de perguntar as coisas sem ter a certeza, já não a primeira vez,anda sempre a querer saber a vida dos outres! O pai, nunca soube desta qu’eu lhe vou contar...

À mãe vá ponde aí auga ó lume, pa’fazer o café, ‘tão aí as coisas aí dentre no ceste. Como ia a dezer mê’pai, ela um dia perguntou-me assim :- Ouve cá miga, óvi dezer que saíu a companha toda, onde o tê’ pai anda!? Eu fiquei atuada com esta conversa…Olhe, nem crete lhe dei, deixei-a a falar sozinha no meio da rua!

- Sabes filha, ela como na’ouve bem, ás vezes confunde as coisas.

- Pois é, só que a gente na fica bem disposta com certas mentiras!

Fim do 2º Episódio

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