quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A grande Surpresa

1ºEpisódio

 

Júlia – Bom dia Rosa, ‘ó tempe que na te vejo!

Rosa – Tanhe  andade ocupada com o arranjo da casa. Senta-te aí um bocadinho que já vais. Mas você tem ‘ma criança ‘ó colo... mostra lá!

Ai que linda criança e desenxovalhada qu’ela é!... Mas ouve cá, de quem é ela filha?

Júlia – Na’sabes… é da ‘nha neta mais velha, fez ontem dois mesinhos.

Rosa – Mas quantas netas tens tu?

Júlia – Netas, são quatro mas esta criança é bisneta. Eu já sou bisavó e com muito gosto... Isto é ‘ma riqueza, ‘ma riqueza, só me dá vontade de beijá-la, é tão linda!

Rosa – Eu tabém t’anhe olhos pa’ ver, nã’ sô’ nenhuma atrasada... Ai ai, que infeliz sou eu, já fiz setenta anos e nunca na vida, conheci ‘ó menes uma avó!

Júlia – Com essa idade na’ vais ter de certeza! São destines, são destines!

Ouve cá, mudande agora d’assunte, o tê’ filhe ‘inda na’ procurou nenhuma rapariga p’a casar?

Rosa – Não melher. Dê’xa-me aqui a ‘nha vida, todos os dias é ‘ma traçaria em casa. Mas tu sabes lá quantes casamentes, e dos bons, qu’ele já perdeu. Na’ têm conte!

Júlia – Mas o que diz ele a isse?

Rosa – O que diz… Diz-me com ‘ma grande calma: «Mãe, um dia você vai-me ver casade». E prontes, aqui and’eu à espera uma eternidade!

Júlia – Ele já tem mais de trinta anos, na’tem?

Rosa – Sei lá, eu já perdi o conto. Olha, ele diz-me muitas vezes: «Mãe, melheres é cá comige. Na’se preocupe». Eu na’ lhe digo mais nada! Mas queres ó’vir, chega-te p’ráqui um bocadinho… Há uns tempes disse-lhe assim: «À filhe,´tá aí ‘ma viúva nova, deserta p’a casar. Sabes falar com ela!» Sabes o qu’ele me disse!... «À mãe, viúvas não. Tanho muite medo!»E prontes, na’passa diste...são só cismas qu’ele tem na cabeça!

Júlia – Mas ele, há uns anos, namorou com ‘ma piquena!

Rosa – É verdade, mas acabou logo com o namoro. Na’ gostava dela. A rapariga mais tarde até chegou a casar com outre rapaz! Mas tabém na’ teve sorte nenhuma, meses depois ficou viúva. Olha, por causa deste caso, o mê’ filhe matou-me com desgostos:- disse-me logo «’Tá a ver mãe seu vou pelos seus conselhos, se calhar ‘tava agora enterrade! A moça já ‘tá viúva... na’ se meta mãe, nã’ se meta!... Dê’xe-me andar à ‘nha vontade!»

Júlia – À melheres, mas isse na’ quer dezer qu’ele morresse tabém!

Rosa – É o que lhe dige, ele só pensa o pior. Mas eu ‘tou desconfiada qu’ele anda a escrever cartas a alguém. Já o viram a pôr cartas no Corrê’!

Júlia – (admirada) Eu nem quere acreditar, eu nem quere acreditar!

Rosa – Que admiração é essa Júlia?

Júlia – Olha ali p’ó sul, em cima do pardão, na’ vês nada?

Rosa – Vejo gente andar p’ra lá e p’ra cá!

Júlia – À catane, tu na’ vês o tê’ filhe ‘ó lade duma melher andar p’ra cá!

Rosa – Ah! Pois vem. Ai Nossa Senhora, Deus permita que desta vez encontrasse ‘ma melher. Eu já ‘tou por tude. Ele vem dirê’te aqui à gente… Mas a melher é de fora!... já faz hoje três dias quele na’ m’aparece em casa!

Fim do 1º Episódio – J.Balau

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