Quando a minha sobrinha passa as férias cá em casa, gosta de apreciar a vista da Nazaré nesta janela, pois o homem não perde a oportunidade de espreitar com os olhos bem abertos, mas nós já não ligamos!
Olha Elvira, estou a dizer-te estas coisas para te ires acostumando ao ambiente. És nova aqui e esses conquistadores de meia tigela, não perdem tempos nas suas conquistas.
Estou informada de que és boa mulher, por isso mereces ser respeitada!
Elvira ouviu as recomendações da patroa com muita atenção, tudo isto representava um mundo novo.
Constância - Bem, agora vamos fazer as compras ao mercado.
Hoje é quinta-feira, preciso de comprar as minhas reservas.
Olha Elvira, veste o teu filho para nos acompanhar. Podes utilizar as roupas que te dei.
Chegou o fim de semana. O velho relógio da sala indicava doze horas, nesse momento alguém batia à porta. Constância adivinhava:
Constância - Elvira vai abrir a porta! A esta hora deve ser o meu filho.
A criada foi ver e, realmente lá estava uma figura alta, bem parecida.
Já em casa, Constância cumprimentou o filho, acariciando-o com muitos beijos.
Alberto, satisfeito, retribuiu os carinhos à sua mãe.
Alberto - Então mãezinha, como vai o seu reumático? Mas, estou contente de a ver andar tão bem!
Constância tinha períodos difíceis com a sua doença reumática. Mas, presentemente andava numa fase normal. A sua maior preocupação era o cuidado para com o Alberto.
Alberto - Afinal, a mãezinha já conseguiu contratar uma empregada!
Constância - Sim meu filho, os meus oitenta anos já não me deixam cuidar livremente da casa, e outros afazeres, mas não te preocupes, se eu não estou enganada, temos aqui uma mulher de confiança para cuidar de nós. É viúva, tem a seu cuidado um filho com seis anos.
Aqui está ele. Olha João, este senhor é o meu filho Alberto.
O pequeno João, sempre bem disposto, não estranhou a visita, dizendo seguidamente:
João - Olá! O senhor é muito grande, assim não posso dar-lhe um beijinho!
Alberto sorriu um pouco, achando graça ao João. Como recompensa, pegou-o ao colo para acariciar o seu rosto.
Alberto - Pronto, assim está tudo bem, agora vamos ser dois bons amigos, está bem!
Entretanto, Elvira acomodava as malas depois de cumprimentar o patrão.
Pouco depois, a Constância dialogava com o seu filho, onde o balanço das comprar para o seu casamento era o tema principal. E assim o serão prolongou-se um pouco fora do normal.
No dia seguinte, Constância e Alberto dirigiram-se para o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré para assistirem à missa.
Ambos católicos praticantes, sentiam a obrigação de assistir à cerimónia mais importante dos cristãos.
Quando regressavam a casa, alguém com ansiedade já os esperava na sala de visitas.
Tratava-se então do irmão da namorada do Alberto, o qual queria transmitir uma notícia muito desagradável.
A jovem, durante o percurso do passeio a cavalo sofreu uma queda, vindo a falecer momentos depois.
Foi o momento mais difícil para o Alberto. Nem queria acreditar.
Seguidamente, amparou a cabeça com as mãos e, deste modo, ficou imóvel durante algum tempo.
Constância também ficou chocada com a perda da futura nora.
Depois de alguns desabafos, o Alberto mandou preparar a mala para partir imediatamente.
A Constância, fazendo o mesmo, seguiu na companhia do seu filho. E assim todos os projetos caíram por terra.
Dois meses depois, o ambiente em casa ia normalizando.
O Alberto estava conformado com a perda da sua namorada.
Agora tinha que começar tudo de novo.
A Constância também continuava a confortar o seu filho com carinhos e palavras de esperança.
Entretanto, a Elvira já se habituara aos costumes dos patrões.
Na sua terra, tudo era diferente mas nem por isso deixava de gostar.
Fartura, conforto e carinho era de realçar principalmente para com o Alberto.
"Era mesmo isto que eu precisava", pensava muitas vezes Elvira, e agora era só deixar passar o tempo e seja o que Deus terminar.
Certo dia, Elvira fazia a limpeza geral à casa. Do outro lado da rua, por entre a fenda dos cortinados, alguém observava os movimentos da criada.
Fim do 3º episódio
J.B.
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