4º Episódio
- Entretanto, a Ti’ Rosa em casa, dialogava com o marido, este com as mãos na cara, estava muito pensativo.A certa altura o João disse:
- À Rosa, ‘tá-me a dar que pensar o fogo no armazém!
- A Ti’ Rosa não respondia ao pensamento do seu marido.
- ‘Tás ó’vir Rosa, qu’achas tu deste acidente? Queres tu ver, isto foi tudo uma vingança!
O nosse filho como anda a ensaiar a cegada, e segundo ele nos disse com piadas ó ganancioso, se’calhar já lhe foi aos ó’vides alguma coisa, ele foi capaz de pôr fogo ‘ó armazém com má intenção.
- A Ti’ Rosa, surpreendida, fixou o olhar do marido e tentou desviar-lhe o pensamento.
- Mas ouve cá homem, quem ia fazer ‘ma coisa dessas… Nã’ penses nisse!
- À Rosa,Já pensei que podia ser ólgum cigarro mal apagado, p’raí talvez!
Olha, é melhor esquecer tude, despois se sabe a verdade.
Uma semana depois. O Alberto deslocou-se novamente à Câmara Municipal para levantar a cegada. Quando a recebeu deram-lhe uma notícia desagradável.
- O quê!... Cortaram-m’a cegada! Já viram iste, a Censura cortou-me a cegada, à ós!
O Alberto ficou furioso quando recebeu a notícia que a cegada tinha sido cortada pela Censura; todo o texto estava cortado,lamentando-se perante o funcionário da Câmara Municipal.
- Iste nã’ se faz. Despois de tanto trabalho e noites perdidas recebo esta recompensa.
Ah! Mas iste nã’ vai ficar assim, a cegada tem que sair p’á rua!
O Alberto, depois de desabafar, saiu insatisfeito dirigindo-se a sua casa, sem dar conhecimento da sua mágoa à sua mãe. A Ti’ Rosa, sempre preocupada com o bem estar do seu filho, achou-o estranho tal comportamento, e desde então ficou intranquila.
- Mas o que tem o mê’ filhe, parece estranho! Nunca o vi assim. Tanhe que saber o qu’aconteceu.
O João chegara a casa e sem perda de tempo perguntou à sua esposa pelo filho.
- Ouve cá Rosa, tu nã’ viste o Alberto? Já corri a praia à roda e ninguém sabe onde pára.
A Ti’ Rosa ficou perturbada, dois casos estranhos ao mesmo tempo, já dava para pensar, por isso perguntou ao João:
- Ouve cá João, mas aconteceu ólguma coisa ó nosse filhe?
– Mas porque perguntas isse Rosa?
- Porque o tê’ filhe, entrou agora a falar sozinho e fechou-se no quarto.
- Fechou-se no quarto! Mas eu nã’ sê’ de nada, eu só quero dar-lhe ordens do mestre p’a esta madrugada.
O Alberto continuava no quarto, lia e relia o texto da cegada para tentar modificar alguma frase mais agressiva. A sua intenção era que o povo soubesse da injustiça que o mestre Fernando fez, a um dos seus camaradas.
Pouco depois o João comunicava ao Alberto o aviso do mestre da empresa.
- ‘Tás aí Alberto? Olha, o mestre deu ordens p’ra te levantares às quatro horas da manhã, já aviado. Ele ‘tá com outras ideias, quer ir a um pesquê’ro novo.
O Alberto quando recebeu a notícia não ficou satisfeito, agora que precisava de mais tempo livre para se concentrar, recebeu uma notícia que não esperava, mas com um pouco de sacrifício conseguiu completar a sua ideia.
Uma semana depois tinham sido ultrapassadas todas as dificuldades. O grupo do Alberto estava preparado para exibir o seu trabalho realizado em algumas semanas. Com grande entusiasmo o povo já ia falando de algumas novidades preparadas para sair nos dias de Entrude mas, o mais falado era a cegada do Alberto porque ela tinha sido cortada pela Censura da entidade local.
Chegou o dia da exibição. A taberna escolhida em primeiro lugar foi a do senhor António. Havia espaço suficiente para o grupo se mover sem dificuldade.
Em pouco tempo o empresário da taberna viu muita gente, uns sentados outros de pé, restando no centro alguns metros para a exibição do grupo. Entre a clientela e outros populares, também estava presente o mestre Fernando acompanhado de sua esposa e a filha, Maria.
Os pais do Alberto, um pouco nervosos, também não faltaram mas, a Ti’ Rosa não estava tranquila ao ver o mestre Fernando entre os presentes.
Pouco depois, alguém anunciava a presença do grupo para o Alberto exibir a cegada pela primeira vez.
A taberna do Senhor António estava muito animada. O Alberto e os seus colaboradores foram recebidos com fortes aplausos; ia dar-se o início da exibição da cegada
.Fim do 4º Episódio
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